O Ministério Público Federal (MPF) instaurou, nesta segunda-feira (3), um procedimento para apurar possível prática de homofobia praticada pelo líder religioso André Valadão durante transmissão de um culto de sua igreja pelo YouTube. Em transmissão pela Internet, pastor sugeriu que fiéis matassem pessoas da comunidade LGBTQIA+.
Segundo vídeos apresentados em matérias jornalísticas, o investigado usou expressões como: “Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais”, afirma o pastor. “Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’, agora tá com vocês”.
O responsável pelo procedimento será o procurador regional dos Direitos do Cidadão no Acre Lucas Costa Almeida Dias. Após a apuração dos fatos, o MPF pode oferecer denúncia à justiça ou arquivar o procedimento.
Valadão vem se manifestando de forma criminosa de forma recorrente. Um desses exemplos foi um sermão realizado na filial da Igreja Batista da Lagoinha em Orlando, nos Estados Unidos, no dia 02 de julho. As palavras proferidas por ele, após uma série de ataques constantes à comunidade LGBTI+, revelam uma postura de ódio e intolerância.
Esta não é a primeira vez que Valadão se torna notícia por praticar LGBTfobia. Reiteradas manifestações do pastor atentam contra os direitos da comunidade LGBTQIA+ e se tornaram tema de denúncias feitas por parlamentares e por entidades ligadas aos direitos humanos.
Entidades repudiam Valadão e pedem investigação
Em resposta à declaração de Valadão, a Aliança Nacional LGBTI+ formalizou uma denúncia contra o pastor por incitação ao crime junto ao Ministério Público Federal. Em nota, publicada nesta segunda-feira (3), lembrou que já em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que os representantes das religiões têm direito à liberdade religiosa, “desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero”.
Também determinou, de modo geral, independente de questões religiosas, que as condutas homofóbicas e transfóbicas “que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém” são formas de racismo e puníveis como tais na forma da lei.
Outra entidade que se manifestou no mesmo sentido foi a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil, que repudiou as declarações homofóbicas de Valadão. Em nota, diz que “o pastor André Valadão demonstra um desrespeito profundo pela diversidade humana e pelos direitos fundamentais de todos os indivíduos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Tais declarações são claramente um incentivo à violência e ao preconceito, promovendo um ambiente hostil e prejudicial para a comunidade LGBTI+.”
Prossegue a nota: “É imperativo que líderes religiosos e figuras públicas sejam responsáveis por suas palavras, evitando contribuir para o fortalecimento de estigmas e preconceitos já arraigados na sociedade. Diante dessa situação, solicitamos ao Ministério Público Federal que investigue as declarações do pastor André Valadão.”