O casal gay atingido por spray de pimenta durante uma das noites de Carnaval, em Florianópolis, voltava para casa quando foi impedido pela Guarda Municipal de Florianópolis (GMF) de continuar o caminho. Pouco depois das 2h da madrugada, os foliões que ainda estavam pelas ruas do Centro-Leste saindo da festa foram surpreendidos com balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta.

A ação da Guarda Municipal foi registrada em vídeos, que mostram o uso de spray de pimenta e disparo de balas de borracha. Por outro lado, os vídeo não registraram nenhuma resistência das pessoas que circulavam pela região.
Foi o caso do casal gay Gabriel Leonel e Eliezer Cruz, que andavam em direção a própria residência, que fica na avenida Hercílio Luz, quando foram atingidos com o spray. O Floripa.LGBT conversou com eles nesta semana e ouviu os relatos de pânico sofrido por eles.
O profissional de Tecnologia da Informação, Eliezer, de 33 anos, relata que escolheu ir em direção aos guardas porque esse era o caminho para o prédio em que o casal mora, mas que não foram abordados pela equipe antes da agressão.
“A gente voltou, entendendo que havia policiais, mas pensamos: vamos passar, falar que moramos logo ali e tá tudo certo. A gente simplesmente estava se direcionando para a nossa casa. Em nenhum momento a gente foi questionado sobre isso. Nós poderíamos falar com ele, ele poderia nos questionar, e a gente responder, né? Mas simplesmente não. O guarda estendeu o braço com o spray de pimenta e nos atacou de forma brusca“, afirma.

“Como se estivesse pegando fogo”: casal gay relata ferimentos
Depois da agressão, o casal tentou voltar para casa por outro caminho, mas teve dificuldade por causa dos ferimentos causados pelo spray de pimenta. Além dos olhos, a substância atingiu o corpo dos namorados e Gabriel acabou perdendo a lente de contato, o que dificultou ainda mais a visão.
“Eu tô com o corpo completamente ardido, ardendo e realmente é uma sensação muito forte como se tivesse pegando fogo mesmo”, afirmou.
Feridos, eles só conseguiram chegar em casa depois das 4h da manhã, pois tiveram dificuldade para se locomover e encontrar o caminho para casa.
O casal ficou perdido e precisou parar e se esconder atrás de um carro, com medo da ação da Guarda. Mesmo depois de lavar os olhos e tentar aliviar os sintomas da substância,
Eliezer, ainda desnorteado, escorregou e caiu dentro de casa. Ele ainda afirma que teve febre e o casal ficou muito abalado emocionalmente com a situação.
“A gente realmente está em busca de uma justiça, que algo seja feito de fato. Que alguém seja penalizado por isso, sabe? Porque a abordagem feita foi algo completamente injusto”, finalizou.
VÍDEO: Imagens mostram momento em que o casal gay foi atacado
Portaria definiu horário para o fim da festa de Carnaval em Florianópolis
Uma portaria do município definiu que os blocos, arenas e festas em espaço público durante o Carnaval deveriam encerrar antes das 2h da manhã, com as seguintes etapas:
- I – Finalização da sonorização até 01h30;
- II – Movimento de dispersão até às 02h;
- III – Início da limpeza pública às 02h.
Na última terça-feira (4), o vereador Leonel Camasão (PSOL) protocolou um requerimento para convocar o comandante da Guarda Municipal de Florianópolis. O objetivo dele é que a GMF dê explicações sobre eventual abuso de autoridade e uso desproporcional da força contra os foliões no Carnaval.
Vice-prefeita afirma que ação foi tolerante e que casal descumpriu ordem
A vice-prefeita e secretária municipal de segurança, Maryanne Mattos afirmou, em entrevista à NDTV, que já existe um histórico de as pessoas se negarem a liberar a via para limpeza feita pela Prefeitura.
Ela ainda destacou que, apenas o recorte de um cena não reflete toda ação que ocorreu no local e que a GMF foi tolerante na dispersão dos foliões no Carnaval.
“Toda verbalização foi realizada, o casal se negava a cumprir essa ordem. Se o pedido não está sendo acatado, a gente vai usar mecanismos para que a pessoa se afaste”, afirmou Maryanne.
* Sob supervisão de Danilo Duarte