Jogos Escolares do IFSC recebem estudantes trans pela primeira vez
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Jogos Escolares do IFSC recebem estudantes trans pela primeira vez

“Tem gente que fala que isso é só militância, mas é um sentimento humano. Cada coração transborda diferente”, comenta Viktor, um dos atletas trans no evento esportivo do IFSC

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Depois de nove anos, finalmente os Jogos Escolares do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) receberam estudantes trans para as competições. Sofia Pineda Fajardo, de 15 anos, e Viktor Fernandes Sttocco, de 16 anos, representaram, respectivamente, as cidades de Garopaba e Caçador. As competições aconteceram nesta semana, em Blumenau, com a participação de 936 estudantes de 16 campus da instituição.

Jogos Escolares do IFSC recebem estudantes trans pela primeira vez
Viktor representou o Campus Caçador no tênis de mesa (Foto: IFSC/Divulgação)

Cursando o primeiro ano do ensino médio técnico em Informática, Viktor disputou o tênis de mesa individual e em dupla. A paixão pelo esporte, segundo ele, foi a motivação para se dedicar dentro e fora do Instituto, ainda que nem sempre encontrasse condições confortáveis para praticar. “No local que treino fora do campus, alguns homens dizem que não jogam comigo porque sou ‘mulher’ e que, por isso, sou fraco”, relata.

Dentro do campus, Viktor pratica esportes com meninos e meninas. Nas aulas de educação física não há separação da turma. “Aqui eu encontro respeito, que é o mínimo que se espera das pessoas. Me sinto mais aberto, mais incluído, mesmo que ainda haja problemas”, afirma.

Sofia também participou por entender que é uma forma de abrir portas a mais estudantes trans. “Isso é 80% da minha motivação de estar aqui. Há também a vontade de participar, mas principalmente de dar visibilidade e exemplo para mais pessoas”, conta.

A aluna do primeiro ano do ensino médio técnico em Informática competiu no atletismo e conquistou a medalha de ouro nos 3.000 metros e a medalha de prata nos 1.500 metros.

IFSC dá exemplo de respeito à diversidade

Jogos Escolares do IFSC recebem estudantes trans pela primeira vez
Sofia levou medalhas de ouro e prata, além de contribuir no debate da representatividade no IFSC (Foto: IFSC/Divulgação)

No entanto, nem tudo está pronto para a inclusão. Ao precisar tomar banho após o primeiro dia do evento, Viktor percebeu que os chuveiros do vestiário masculino possuíam apenas divisória lateral, mas que não davam privacidade.

“Por isso estou sem tomar banho ainda [ao final do primeiro dia]. Alguns amigos até sugeriram tentar o banheiro feminino, mas a situação é a mesma”, lamenta Viktor. A comissão organizadora foi informada do problema e procurou o estudante para resolver a situação.

Mas ela conta que está focada em mais uma conquista nos Jogos Escolares: servir de exemplo para mais estudantes trans.

“Eu me preparei para sofrer questionamentos por parte de outros alunos, mas felizmente não houve nenhuma situação complicada”, comemora.

Viktor também comenta que, além de competir, espera que a sua participação no evento estadual incentive outros estudantes trans a se dedicarem e participarem das práticas esportivas dentro e fora da escola. “Tem gente que fala que isso é só militância, mas é um sentimento humano. Cada coração transborda diferente”, desabafa.

IFSC muda regras de competição para combater preconceitos

Para o coordenador da comissão organizadora, Mozart Maragno, “inclusão, diversidade e disputas emocionantes” devem ser os destaques desta edição. Os Jogos Escolares do IFSC acontecem desde 2012, sendo interrompidos apenas durante a pandemia da Covid-19.

Para se preparar para o evento com a participação inédita de atletas trans, a comissão organizadora fez mudanças no Código de Disciplina Esportiva. “Criamos o artigo 28, que tornou infração passível de punição qualquer manifestação preconceituosa, como misoginia, machismo, LGBTfobia, xenofobia, entre outras”, lembra Diogo Moreno, coordenador de Juventudes e Diversidades dentro da Pró-reitoria de Ensino do IFSC.

De acordo com o coordenador da Comissão Organizadora do JIFSC, Mozart Maragno, o debate sobre a participação de estudantes trans na competição chegaria mais cedo ou mais tarde. “Esse é um debate em movimento na sociedade e sabemos que cada modalidade esportiva tem uma visão específica. Mas neste momento nossa preocupação foi garantir a realização de um evento inclusivo e com respeito às diferenças”, resume.

* Com informações do IFSC

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