O combate ao HIV em Florianópolis foi atingido em cheio com um anúncio feito nesta quinta-feira (7). Isso porque os atendimentos a pacientes com HIV pelo programa “A Hora é Agora” foram suspensos. O anúncio foi feito pela Secretaria de Saúde da Capital e passa a valer imediatamente.

O médico da família e comunidade Ronaldo Zonta, que atuou na coordenação do programa, afirmou que as novas medidas adotadas em Florianópolis “buscam trazer segurança para quem é acompanhado pelas nossas equipes, às pessoas que poderão precisar de orientação, realizar testagem, iniciar tratamento ou o uso de alguma profilaxia”.
De acordo com ele, pelo menos 9 mil pessoas que vivem com HIV são acompanhadas em Florianópolis, e das que estão em tratamento regular, 96% delas têm carga viral indetectável, ou seja, sem capacidade de transmissão. “Além disso, conseguimos atingir 30% de queda no registro de novos casos nos últimos anos. É uma vitória de todos nós”, enfatiza Zonta.
O programa de combate ao HIV, “A Hora é Agora”, foi criado há 10 anos com a proposta de ampliar o acesso à testagem e tratamento para o HIV. Cerca de 2 mil pessoas com HIV em Florianópolis utilizaram o programa e 110 recebiam mensalmente o tratamento pelos correios.
Com o corte dos investimentos americano, a Prefeitura anunciou que será preciso fazer ajustes. Entre as ações previstas estão a contratação emergencial de médicos infectologistas, responsáveis pelo atendimento especializado às pessoas que vivem com HIV/aids e a convocação de enfermeiros e farmacêuticos.
“Nosso compromisso é de que os serviços sejam mantidos, mesmo que sejam necessárias adequações, trabalhar com os nossos recursos. Nenhum paciente ficará desamparado, pois garantir o tratamento adequado, quando falamos dessa pauta, é uma questão de qualidade de vida, de prevenção da vida”, explica o secretário de saúde, Almir Gentil.
O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, garantiu que não haverá interrupção no enfrentamento ao HIV e que reconhece que isso representaria risco à saúde.
“Estamos trabalhando para a mitigação dos impactos da suspensão, com o compromisso de manter o patamar que temos hoje, de redução na transmissibilidade e de cobertura total de tratamento para quem é diagnosticado. O enfrentamento ao HIV não pode sofrer interrupções, pois colocaria em risco à saúde de quem vive com o vírus, além de poder influenciar na positivação de novos casos, coisas que a gente não quer que aconteçam. Essa é uma pauta da cidade, pois todos podem precisar do serviço um dia”, afirmou o prefeito.
O anúncio ocorre após a decisão do governo dos Estados Unidos de interromper o financiamento destinado a programas de combate ao HIV e AIDS em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil.
A medida, anunciada em 24 de janeiro, faz parte de uma ordem executiva do presidente Donald Trump que congelou o Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da AIDS (PEPFAR).
Confira o anúncio da Prefeitura de Florianópolis sobre as mudanças no combate ao HIV
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Medidas adotadas em Florianópolis
Enquanto a nova dinâmica de atendimento é estabelecida, a orientação para a população é utilizar os seguintes canais para ter acesso a medicamentos, consultas e tratamento para o HIV:
- Alô Saúde Floripa (0800 333 3233): Para encaminhamento de testagem, consultas e renovação de receitas.
- Serviço por Whatsapp (48 3239-1542): Para apoio ao tratamento e prescrição de TARV para pessoas vivendo com HIV/AIDS.
- Farmácias das policlínicas: Para entrega de medicamentos e das profilaxias PEP e PrEP.
- UPAs e Centros de Saúde: Para atendimento de PEP.
- Whatsapp (48 9 9608-6606): Para agendamento de PrEP.
Impacto em Florianópolis e em outras capitais
O programa “A Hora é Agora” era uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA e o Ministério da Saúde. Ele atuava em cinco capitais brasileiras: Porto Alegre, Curitiba, Campo Grande, Florianópolis e Fortaleza.
A iniciativa fornecia serviços essenciais como:
- Testagem regular para HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
- Distribuição de autotestes de HIV pelos Correios e armários digitais.
- Oferta de profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP).
- Notificação de parceiros.
- Tratamento imediato de HIV, ISTs e infecções oportunistas.
- Busca ativa de usuários que interromperam o tratamento.
Com a suspensão do financiamento, os atendimentos foram interrompidos nessas cidades.
Repercussão internacional e posicionamento da OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) manifestou preocupação com a decisão do governo norte-americano, alertando que a suspensão do financiamento pode representar uma “ameaça global” significativa para pessoas que vivem com o vírus.
Segundo a OMS, a medida coloca em risco mais de 30 milhões de pessoas ao redor do mundo que dependem desses programas para acesso a terapias antirretrovirais em mais de 50 países.
A organização afirmou:
“Essas medidas, se prolongadas, podem levar ao aumento de novas infecções e mortes, revertendo décadas de progresso e possivelmente levando o mundo de volta aos anos 1980 e 1990, quando milhões morriam de HIV a cada ano, incluindo muitos nos Estados Unidos”.
Resposta do Ministério da Saúde
Em nota, o Ministério da Saúde brasileiro afirmou que “garante orçamento crescente para a assistência integral aos pacientes com HIV/aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) pelo SUS, incluindo ações de prevenção, diagnóstico e tratamento, com oferta gratuita de antirretrovirais”.
* Sob supervisão de Danilo Duarte