Professor da UFSC se destaca internacionalmente em pesquisas sobre aids e HIV
Saúde

Professor da UFSC se destaca internacionalmente em pesquisas sobre HIV e combate à aids

Em entrevista a um periódico científico, professor da UFSC relata a trajetória no avanço da ciência sobre a aids e o HIV nos últimos 20 anos

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Um professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vem se destacando entre os cientistas que fazem pesquisas sobre o vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e a aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).

Em alusão ao dia 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a aids, a revista científica Virology Journal publicou uma entrevista com o professor da UFSC Aguinaldo Roberto Pinto, em que ele narra sua trajetória na investigação sobre o tema e os principais desafios enfrentados no combate à doença.

Professor da UFSC se destaca internacionalmente em pesquisas sobre aids e HIV
Professor Aguinaldo Roberto Pinto, no Laboratório de Imunologia Aplicada (LIA/CCB/UFSC) – Foto: Gabriel Salles Beltrão/Reprodução/Floripa.LGBT

Aguinaldo é professor do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (MIP/UFSC) e coordenador do Laboratório de Imunologia Aplicada (LIA/CCB/UFSC).

Confira a entrevista com professor da UFSC sobre HIV/aids

Confira a seguir a reprodução da entrevista realizada com o professor da UFSC na revista Virology Journal, em tradução livre para o português. A versão original em inglês pode ser conferida aqui.

Como você descreveria os avanços do conhecimento sobre HIV/aids ao longo da sua carreira?

Nos últimos 20 anos, nossa compreensão sobre HIV/aids avançou de forma expressiva, tanto em termos de conhecimento científico como de tratamento médico. Este progresso transformou consideravelmente a realidade dos indivíduos que vivem com HIV e aprimorou os esforços mundiais no âmbito da saúde pública.

Um dos principais avanços foi a melhoria da Terapia Antirretroviral (TARV). No início dos anos 2000, as opções de tratamento eram limitadas e apresentavam muitos efeitos adversos. Nas últimas duas décadas, novos medicamentos foram desenvolvidos, proporcionando terapias mais eficazes e mais fáceis de tolerar.

A medicação atual envolve geralmente apenas um comprimido por dia, reduzindo substancialmente a carga de medicamentos. Novos tratamentos, como a TARV injetável de ação prolongada, permitiram a administração de doses em intervalos maiores, proporcionando mais comodidade aos pacientes que precisam de uma administração diária de medicamentos. No Brasil, infelizmente, ainda não temos a opção do tratamento injetável.

No âmbito do diagnóstico, temos hoje um rastreio mais eficaz e o diagnóstico precoce. A detecção precoce permite antecipar a TARV, o que é crucial para garantir a supressão viral e prevenir a transmissão. As estratégias de prevenção, como a Profilaxia Pré-exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-exposição (PEP), foram um divisor de águas na prevenção do HIV, produzindo grande impacto na redução da transmissão viral.

Houve também uma mudança importante na percepção da aids como uma doença fatal para uma doença crônica e controlável. Com a eficácia da terapêutica, as pessoas que vivem com HIV tiveram uma melhoria considerável na qualidade de vida e têm agora uma expectativa de vida semelhante à do restante da população, uma vez que a carga viral pode ser controlada ao ponto de se tornar indetectável no sangue (condição conhecida como “indetectável = intransmissível”).

Quais desafios enfrentam, em particular, os países de baixa renda per capita?

São desafios multifacetados, que são consequência de uma combinação de diversos fatores: sociais, econômicos, de saúde e sistêmicos. Tais variáveis prejudicam os esforços de prevenção, tratamento e cuidados, apesar do progresso significativo em algumas áreas. O acesso limitado aos cuidados de saúde é um dos obstáculos.

A insuficiência de suprimentos médicos e a escassez de profissionais de saúde dificultam que as pessoas tenham um tratamento apropriado e eficaz. Além disso, o acesso à TARV ainda é restrito por seus custos elevados, além de problemas na cadeia de abastecimento ou da falta de instalações de saúde capazes de administrá-la.

Outra questão é o preconceito. O HIV/aids é frequentemente estigmatizado em diversas culturas, o que desencoraja a busca por testes, tratamento ou apoio. Aqueles que vivem com HIV também podem enfrentar discriminação de familiares, da comunidade, de empregadores e mesmo de profissionais de saúde.

Mulheres, especialmente as de baixa renda, sofrem uma hostilidade adicional relacionada ao HIV, como consequência das desigualdades de gênero. Elas frequentemente têm menos poder para exigir relações sexuais seguras, sendo assim mais infectadas pelo HIV. E também podem ser mais vulneráveis ​​a, violências e abusos por sua condição de portadora do HIV.

Barreiras culturais e sociais são comuns, já que práticas tradicionais em alguns países podem intensificar a disseminação do HIV – como a poligamia e outras fundadas na desigualdade de gênero. Além disso, algumas nações têm atitudes muito conservadoras em relação à educação sexual, o que dificulta campanhas de saúde pública.

Nesses ambientes, discutir abertamente a prevenção do HIV e promover o uso de preservativos pode ser tabu. A cooperação global, o financiamento regular e ações de conscientização lideradas pelas comunidades são essenciais para continuar a luta contra a pandemia de HIV/aids em países de baixa renda.

Quais são suas expectativas para o futuro?

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Embora sejam enormes os avanços na pesquisa sobre HIV/aids, especialmente em termos de tratamento e prevenção, nossa meta é conquistar um mundo livre do HIV. Para isso, é preciso encontrar uma cura definitiva e uma vacina preventiva bem-sucedida.

Duas estratégias têm sido exploradas para chegar a uma cura: a cura esterilizante, que busca erradicar completamente o vírus do corpo – o que é particularmente desafiador, devido à capacidade do HIV de se esconder em reservatórios; e a cura funcional, que visa atingir um estado em que o vírus seja indetectável no corpo, sem a necessidade de um tratamento TARV contínuo.

Na busca por cura, entre as ferramentas mais promissoras estão as tecnologias de edição genética, como CRISPR. Pesquisadores têm explorado maneiras de usar CRISPR para modificar a composição genética das células do sistema imune de indivíduos infectados ou até mesmo do próprio vírus, para prevenir ou eliminar a infecção.

Quanto ao desenvolvimento de vacinas, esse tem sido um objetivo muito difícil de ser alcançado. Uma vacina poderia prevenir a infecção pelo HIV ou reduzir a carga viral em pessoas já infectadas. Vários ensaios clínicos já foram realizados em diversas partes do mundo, com diferentes protótipos vacinais, mas os resultados são sempre muito desanimadores.

Por isso, uma vacina realmente eficaz contra o HIV ainda não está no horizonte e, na minha opinião, esse é um tema que ainda requer muita pesquisa, principalmente de ciência básica.

Novas tecnologias de desenvolvimento de vacinas, como as vacinas de mRNA, vêm sendo exploradas como potenciais caminhos para se chegar a uma vacina eficaz. Tais avanços, combinados com esforços para melhorar o acesso a tratamentos e reduzir o estigma, trazem grandes esperanças, tanto para uma cura quanto para o tão esperado fim da pandemia de HIV/aids.

Dia Mundial de Luta contra a aids existe há 36 anos

O dia 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a aids, foi instituído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1988, cinco anos depois de cientistas identificarem o HIV. A data tem por objetivo promover a conscientização sobre a doença e sua prevenção, combater preconceitos e desinformação, além de celebrar os avanços no acesso a tratamentos.

* Sob supervisão de Danilo Duarte

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