Hepatite A em Florianópolis: casos aumentaram mais de 1.400% em 2023
Saúde

Hepatite A em Florianópolis: casos aumentaram mais de 1.400% em 2023

Maior parte dos casos ocorrem por transmissão sexual entre homens que fazem sexo com homens. Falta de vacina para ampla aplicação em Florianópolis ainda é um dos gargalos para combater a Hepatite A

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A escalada de casos de Hepatite A em Florianópolis ganhou um novo patamar nesta reta final de 2023: foram 163 casos ao longo do ano, de acordo com dados parciais da Secretaria Municipal de Saúde coletados no dia 13 de dezembro. Em 2022 foram registrados apenas 11 casos.

Hepatite A em Florianópolis: casos aumentaram mais de 1.400% em 2023
Hepatite A em Florianópolis: casos aumentaram mais de 1.400% em 2023 – Foto: Divulgação / Floripa.LGBT

O Floripa.LGBT já havia alertado, em setembro, para o surto de casos de Hepatite A em Florianópolis. Agora a preocupação é com a exportação de casos e um aumento desenfreado de casos de Hepatite A a partir de Florianópolis tanto para o interior de Santa Catarina quanto para outros estados, em função do aumento de turistas na Capital neste verão.

Os dados parciais ainda revelam que foram 185 casos em todo o Estado, segundo a Diretoria Estadual de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina. Tanto a Secretaria Municipal de Saúde quanto a Dive classificam o caso de Florianópolis como em estado de surto.

De acordo com a SMS, a maior parte dos 163 casos de Hepatite A em Florianópolis são de homens que fazem sexo com outros homens (conhecidos pela sigla HSH): 68,8% das pessoas com a doença estão neste grupo. E entre as formas de transmissão detectadas, 58% ocorreram por transmissão sexual e o restante foi rastreado como sem identificação da via de transmissão.

Justamente por isso, Aline Grando, infectologista da Dive/SC, lembra que entre as práticas sexuais mais seguras ainda está o uso de camisinha e cuidados de higiene no sexo anal-oral (cunilíngua).

A gerente da Vigilância Epidemiológica de Florianópolis, Ana Vidor, aponta que são notificados, em média, 7 casos por semana, mas que houve pico de 13 casos em uma semana, em outubro.

O maior número de casos em 2023 na Capital em um único mês foi em agosto, quando Florianópolis somou 30 casos. O segundo mês nesta sequência foi em novembro, quando mais 19 casos de pessoas com a doença foram notificados.

Aline lembra que a hepatite A é comumente transmitida por via fecal-oral e ligadas às condições sanitárias. “A contaminação pode se dar por via indireta, ou seja, por problemas em água ou alimentos contaminados com vírus A (VHA) ou ainda por fezes expelida por uma pessoa contaminada com a Hepatite A”, explica.

“Considerando que houve melhora no esgotamento sanitário nas últimas décadas, a população não teve contato com o vírus de forma natural”, lembra a infectologista.

Casos de Hepatite A em Florianópolis podem subir nas próximas semanas

“Já havia expectativa que aumentasse [o número de casos de Hepatite A] com a chegada do verão e a probabilidade é que aumente ainda mais, considerando os números atuais”, alerta Ana Vidor.

Além do aumento de turistas, quando há naturalmente a probabilidade de mais casos de transmissão entre pessoas por relação sexual, há a questão das chuvas registradas em outubro e novembro, aponta a infectologista da Dive.

Para estes casos, a medida para frear o contágio continua sendo o uso de hipoclorito de sódio para higienizar alimentos e utensílios domésticos. “Ainda não há situação crítica, mas há possibilidade”, diz a gerente da Vigilância Epidemiológica de Florianópolis.

Falta de vacina para Hepatite A é gargalo para conter aumento dos casos

A vacina para prevenir a Hepatite A está no Plano Nacional de Imunizações (PNI) desde 2015. No entanto, os grupos prioritários ainda são restritos, o que não inclui o grupo HSH, por exemplo.

De acordo com a Dive, o Ministério da Saúde já havia sido alertado em setembro sobre o aumento exponencial de casos de Hepatite A e a secretaria de Estado da Saúde fez o pedido para ampliação do grupo indicado para receber a vacina, incluindo o grupo HSH ou ao menos os homens que fazem uso da medicação de proteção pré-exposição do HIV (PrEP).

No entanto, segundo Grando, “há desabastecimento de vacinas de hepatite A no Brasil”, o que já impacta os grupos prioritários e impede a possibilidade de ampliação do público-alvo.

Conforme o ministério da Saúde, a vacina contra Hepatite A “faz parte do calendário infantil, no esquema de 1 dose aos 15 meses de idade (podendo ser utilizada a partir dos 12 meses até 5 anos incompletos.”

O órgão completa ainda dizendo que “além disso, a vacina está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), no esquema de 2 doses – com intervalo mínimo de 6 meses – para pessoas acima de 1 ano de idade com as seguintes condições:

  • Hepatopatias crônicas de qualquer etiologia, inclusive infecção crônica pelo HBV e/ou pelo HCV;
  • Pessoas com coagulopatias, hemoglobinopatias, trissomias, doenças de depósito ou fibrose cística (mucoviscidose);
  • Pessoas vivendo com HIV;
  • Pessoas submetidas à terapia imunossupressora ou que vivem com doença imunodepressora;
  • Candidatos a transplante ou transplantados;
  • Doadores de órgão sólido ou medula óssea, cadastrados em programas de transplantes.”

Hepatite A: veja quais os sintomas e riscos de reinfecção

A infectologista Aline Grando explica que quem se contamina com o vírus causador da Hepatite A pode ter sintomas brandos (diarreia, por exemplo) ou até mais graves (como icterícia) ou até fulminante (necrose do fígado e até necessidades de transplante do fígado).

Apesar de não ser comum que haja reinfecção, depois que o vírus é eliminado do organismo pode gerar um novo ciclo de contaminação para outras pessoas.

Há poucos casos de gestantes contaminadas e não há registro de transmissão vertical, ou seja, entre mãe e bebê. O período entre o início dos sintomas e o desaparecimento leva duas semanas, em média.

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