A escalada de casos de Hepatite A em Florianópolis ganhou um novo patamar nesta reta final de 2023: foram 163 casos ao longo do ano, de acordo com dados parciais da Secretaria Municipal de Saúde coletados no dia 13 de dezembro. Em 2022 foram registrados apenas 11 casos.
O Floripa.LGBT já havia alertado, em setembro, para o surto de casos de Hepatite A em Florianópolis. Agora a preocupação é com a exportação de casos e um aumento desenfreado de casos de Hepatite A a partir de Florianópolis tanto para o interior de Santa Catarina quanto para outros estados, em função do aumento de turistas na Capital neste verão.
Os dados parciais ainda revelam que foram 185 casos em todo o Estado, segundo a Diretoria Estadual de Vigilância Epidemiológica (Dive) de Santa Catarina. Tanto a Secretaria Municipal de Saúde quanto a Dive classificam o caso de Florianópolis como em estado de surto.
De acordo com a SMS, a maior parte dos 163 casos de Hepatite A em Florianópolis são de homens que fazem sexo com outros homens (conhecidos pela sigla HSH): 68,8% das pessoas com a doença estão neste grupo. E entre as formas de transmissão detectadas, 58% ocorreram por transmissão sexual e o restante foi rastreado como sem identificação da via de transmissão.
Justamente por isso, Aline Grando, infectologista da Dive/SC, lembra que entre as práticas sexuais mais seguras ainda está o uso de camisinha e cuidados de higiene no sexo anal-oral (cunilíngua).
A gerente da Vigilância Epidemiológica de Florianópolis, Ana Vidor, aponta que são notificados, em média, 7 casos por semana, mas que houve pico de 13 casos em uma semana, em outubro.
O maior número de casos em 2023 na Capital em um único mês foi em agosto, quando Florianópolis somou 30 casos. O segundo mês nesta sequência foi em novembro, quando mais 19 casos de pessoas com a doença foram notificados.
Aline lembra que a hepatite A é comumente transmitida por via fecal-oral e ligadas às condições sanitárias. “A contaminação pode se dar por via indireta, ou seja, por problemas em água ou alimentos contaminados com vírus A (VHA) ou ainda por fezes expelida por uma pessoa contaminada com a Hepatite A”, explica.
“Considerando que houve melhora no esgotamento sanitário nas últimas décadas, a população não teve contato com o vírus de forma natural”, lembra a infectologista.
Casos de Hepatite A em Florianópolis podem subir nas próximas semanas
“Já havia expectativa que aumentasse [o número de casos de Hepatite A] com a chegada do verão e a probabilidade é que aumente ainda mais, considerando os números atuais”, alerta Ana Vidor.
Além do aumento de turistas, quando há naturalmente a probabilidade de mais casos de transmissão entre pessoas por relação sexual, há a questão das chuvas registradas em outubro e novembro, aponta a infectologista da Dive.
Para estes casos, a medida para frear o contágio continua sendo o uso de hipoclorito de sódio para higienizar alimentos e utensílios domésticos. “Ainda não há situação crítica, mas há possibilidade”, diz a gerente da Vigilância Epidemiológica de Florianópolis.
Falta de vacina para Hepatite A é gargalo para conter aumento dos casos
A vacina para prevenir a Hepatite A está no Plano Nacional de Imunizações (PNI) desde 2015. No entanto, os grupos prioritários ainda são restritos, o que não inclui o grupo HSH, por exemplo.
De acordo com a Dive, o Ministério da Saúde já havia sido alertado em setembro sobre o aumento exponencial de casos de Hepatite A e a secretaria de Estado da Saúde fez o pedido para ampliação do grupo indicado para receber a vacina, incluindo o grupo HSH ou ao menos os homens que fazem uso da medicação de proteção pré-exposição do HIV (PrEP).
No entanto, segundo Grando, “há desabastecimento de vacinas de hepatite A no Brasil”, o que já impacta os grupos prioritários e impede a possibilidade de ampliação do público-alvo.
Conforme o ministério da Saúde, a vacina contra Hepatite A “faz parte do calendário infantil, no esquema de 1 dose aos 15 meses de idade (podendo ser utilizada a partir dos 12 meses até 5 anos incompletos.”
O órgão completa ainda dizendo que “além disso, a vacina está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), no esquema de 2 doses – com intervalo mínimo de 6 meses – para pessoas acima de 1 ano de idade com as seguintes condições:
- Hepatopatias crônicas de qualquer etiologia, inclusive infecção crônica pelo HBV e/ou pelo HCV;
- Pessoas com coagulopatias, hemoglobinopatias, trissomias, doenças de depósito ou fibrose cística (mucoviscidose);
- Pessoas vivendo com HIV;
- Pessoas submetidas à terapia imunossupressora ou que vivem com doença imunodepressora;
- Candidatos a transplante ou transplantados;
- Doadores de órgão sólido ou medula óssea, cadastrados em programas de transplantes.”
Hepatite A: veja quais os sintomas e riscos de reinfecção
A infectologista Aline Grando explica que quem se contamina com o vírus causador da Hepatite A pode ter sintomas brandos (diarreia, por exemplo) ou até mais graves (como icterícia) ou até fulminante (necrose do fígado e até necessidades de transplante do fígado).
Apesar de não ser comum que haja reinfecção, depois que o vírus é eliminado do organismo pode gerar um novo ciclo de contaminação para outras pessoas.
Há poucos casos de gestantes contaminadas e não há registro de transmissão vertical, ou seja, entre mãe e bebê. O período entre o início dos sintomas e o desaparecimento leva duas semanas, em média.