O mês de conscientização sobre o câncer de mama frequentemente esquece de abordar a comunidade LGBT+, especialmente os homens trans. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, foram registradas 1.416 mortes em função do câncer de mama em Santa Catarina entre janeiro de 2023 até setembro de 2024, mas os dados consideram apenas mulheres, sem levantamento a respeito de homens trans.
A doença é a segunda maior causa de morte por câncer no Brasil, sendo que em 2022, foram 19.103 óbitos em decorrência da neoplasia, segundo o Atlas de Mortalidade por Câncer. Em Santa Catarina, 824 mulheres morreram vítimas do câncer de mama em 2023.
Esse ano, embora ainda com dados preliminares e incompletos, já ocorreram 592 óbitos pela doença, de acordo com dados registrados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM).
Os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são:
- caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor;
- pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja;
- alterações no bico do peito (mamilo);
- saída espontânea de líquido de um dos mamilos; e
- surgimento de pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).
Em comparação com as mulheres cis, o médico mastologista Marcelo Prade explica que é possível a ocorrência de desenvolvimento de câncer de mama em homens trans.
“Embora esse risco seja menor, é importante que a população LGBTQIA+ fique atenta aos sinais e sintomas da doença, como o aparecimento de nódulos e sempre que necessário, procurar assistência médica adequada”, orienta o especialista.
O médico alerta que é importante, não só durante o mês do Outubro Rosa, que visa a conscientização contra o câncer de mama, mas ao longo do ano todo, que os homens trans que passaram por mastectomia, ou seja, a retirada das mamas, estejam atentos à saúde delas, mesmo em casos em que não há mais tecido mamário após o procedimento.
“As pessoas LGBTQIA+ podem enfrentar desafios adicionais devido ao preconceito e estigma em relação à sua sexualidade, incluindo o estigma associado ao câncer de mama. Por isso, é essencial que estas pessoas recebam apoio emocional, cuidado sensível e informações adequadas sobre saúde”, ressalta o médico.
Dentre as recomendações estão: a busca por um profissional de saúde inclusivo e culturalmente competente que tenha conhecimento sobre as necessidades específicas da comunidade, a realização de exames de rotina e o rastreamento de acordo com suas individualidades e fatores de risco.
O mastologista destaca ainda que todas as pessoas têm o mesmo direito de ter um atendimento médico respeitoso e igualitário, independente da orientação sexual ou identidade de gênero.
Câncer de mama exige atenção específica para homens trans
Embora o atendimento médico básico, que deve ser o mesmo para todos, Prade explica que é fundamental que os profissionais de saúde estejam sensibilizados e informados sobre as especialidades relacionadas à saúde da comunidade LGBTQIA+.
Isso inclui compreender as disparidades de saúde que podem existir, como taxas altas de doenças mentais, maior prevalência de doenças sexualmente transmissíveis e desafios específicos enfrentados por pessoas transgêneros, entre outros.
“O apoio social e a conscientização são fundamentais para combater o estigma e garantir que uma pessoa LGBTQIA+ receba um cuidado adequado às suas necessidades”, pontua.
Marcelo Prade enfatiza que é importante que os profissionais de saúde estejam preparados para fornecer um atendimento inclusivo e sensível às necessidades específicas de grupos, como pessoas transgênero e não-binárias.
“O atendimento médico para pessoas LGBTQIA+ deve ser igualitário e não discriminatório, proporcionando o mesmo nível de cuidado e qualidade oferecido a todas as pessoas Dessa maneira é possível criar um ambiente acolhedor e inclusivo, onde os pacientes se sintam à vontade para compartilhar informações pessoais, identidade de gênero e orientação sexual”, completa.
Conforme a SES, a prevenção do câncer de mama baseia-se no controle dos fatores de risco modificáveis e na promoção de fatores de proteção.
“Prevenir é o melhor remédio. Os cuidados mais importantes são manter o peso corporal saudável, ser fisicamente ativa. Além de evitar o consumo de bebida alcoólica. E para quem tem filhos, amamentar o maior tempo possível”, destaca Aline Arceno, gerente de Análises Epidemiológicas e Doenças e Agravos Não Transmissíveis, vinculada à Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive/SC).
* Sob supervisão de Danilo Duarte