Foto: Instagram/Reprodução/Floripa.LGBT
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Lirous K’yo (PT) quer atuar no combate às violências contra pessoas LGBT+

Lirous K’yo (PT) é candidata a vereadora em Florianópolis. Entrevista faz parte de série do Floripa.LGBT com candidatos da Grande Florianópolis

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A candidata a vereadora pelo PT em Florianópolis Lirous K’yo Fonseca respondeu quatro perguntas enviadas pelo Floripa.LGBT sobre sua candidatura e propostas voltadas à comunidade. A entrevista de Lirous faz parte de uma sequência de matérias com entrevistas aos candidatos LGBT+ da Grande Florianópolis. Confira a entrevista abaixo.

Lirous K'yo (PT) quer atuar no combate às violências contra pessoas LGBT+
Lirous K’yo é uma travesti bissexual e disputa uma vaga na Câmara de Vereadores de Florianópolis – Foto: Instagram/Reprodução/Floripa.LGBT

De forma resumida quem é você?

“Meu nome é Lirous, sou assistente social formada pela UFSC, DJ e tenho informação pela Academia Internacional de Música Eletrônica (IMEC). Eu sou uma pessoa que atua há pelo menos 20 anos em Florianópolis, acolhendo vítimas de violência. E isso se dá também com as situações de violência que eu passei.

Eu iniciei meus trabalhos acolhendo a população de rua e população LGBT. Logo em seguida, eu comecei a trabalhar com mulheres cis vítimas violência também.

Sou uma das organizadoras mais velhas da Parada da Diversidade, onde comecei logo na primeira edição, em 2008. Eu trabalho na área da tecnologia, com games, trilhas sonoras de filmes, cinema, então é muita coisa. Eu acho que eu já fiz praticamente de tudo nessa vida!”.

O que Florianópolis precisa para ser uma cidade mais acolhedora à comunidade LGBT?

“Na verdade, eu acredito que há uma confusão com essa palavra acolhedora. Quando falamos em acolher, a gente pensa só naquelas pessoas que estão chegando.

Na verdade, uma Floripa acolhedora é que tenha saúde para a população LGBT, que a gente tenha acesso ao mercado de trabalho, consiga se dedicar aos nossos estudos e formação, que a tenha respeito tanto na rua quanto nos ambientes que frequentamos, tenha leis que nos deem proteção e que essas leis estejam realmente a nosso favor e não estejam somente no papel.

Além disso, precisamos de formação continuada para todo mundo que trabalha atendendo a população LGBT, tanto no município quanto no estado. E eu acredito que o mais importante de tudo é a gente se sentir segura no lugar. Aí sim, nos sentimos acolhida.

Porque Florianópolis não é uma cidade que nos dá essa segurança, aqui não temos segurança alimentar, segurança profissional e a gente ainda vive com uma parcela muito grande de mulheres, travestis e transsexuais que estão na marginalidade.

Então, quando começamos a pensar numa cidade acolhedora, a gente tem que pensar que não é suficiente somente combater as violências – principalmente as violências físicas -, porque quando chega um caso de violência para mim, geralmente ela já extrapolou todos os processos de violência que poderiam acontecer.

Floripa ainda precisa de muita conscientização, de muito trabalho em torno da população LGBT e principalmente para as quebras de preconceitos. Porque quem violenta, a gente sabe que não é a população LGBT. São familiares da população LGBT, são vizinhos, então não tem como fazer um trabalho pensando num acolhimento se a gente não pensar em toda a esfera de onde estamos inseridos”.

Como você, enquanto liderança política LGBT+, vê as políticas públicas para a comunidade na cidade?

“Na realidade, não há políticas públicas em Florianópolis que não tenham vindo através de lutas aguerridas do movimento social. Então, se a gente conquista, por exemplo, um ambulatório trans, se a gente está conseguindo ter acesso à universidade – que daí já é uma questão federal -, se estamos conseguindo ter a questão do nome social na Secretaria da Educação, enfim, isso tudo foi uma briga que a gente acabou comprando enquanto movimento social, enquanto instituição.

Nesse sentido, eu posso falar um pouco da Associação em Defesa dos Direitos Humanos (ADEH), instituição que eu coordenei por mais de 10 anos.

Nós tivemos essas lutas todas travadas através de muitas necessidades das pessoas LGBTs que não tinham acesso, por exemplo, a um lugar especial para ficar na passarela. A gente não tinha políticas públicas voltadas a questão da própria saúde. Como a questão da mulher lésbica que ainda precisava fazer o exame Papanicolau e outros exames e pessoas trans que muitas vezes eram barradas por conta da genitália.

Então assim, a gente tem uma problemática muito grande para resolver e temos que parar de ficar somente nessa parte da romantização do que é a comunidade LGBT. A comunidade LGBT começa antes da periferia. Estamos falando sobre a nossa população que está na rua.

Depois disso, podemos falar sobre as pessoas que têm um teto na periferia e depois a gente vai vir conversar sobre as políticas públicas centradas nas pessoas que são ligadas às classes baixas e médias. Porque a gente esquece totalmente a galera que é marginalizada, que não tem uma casa para morar ou que muitas vezes mora com quatro, cinco, seis pessoas. E isso ainda começa a dificultar, por exemplo, de eles terem acesso a políticas públicas de assistência.

Fora que nós, enquanto LGBTs, não temos reconhecimento da nossa família. A gente tem uma organização familiar que é muito diferente das pessoas heterossexuais normativas. Então, acabamos tendo o irmão naquele amigo que foi expulso de casa e que a gente trouxe para a nossa. Ou a gente tem aquela outra pessoa que se comprometeu em estar nos auxiliando no processo de crescimento e com o aluguel. As nossas famílias vão além do sangue”.

Se eleita for, quais serão as suas prioridades de mandato?

“Quando a gente vai falar sobre prioridade do mandato, na realidade tudo é prioridade pra população LGBT que não tem acesso à assistência, à saúde, educação e tem um déficit de atenção da própria segurança pública. Aí podemos começar a pensar em que não tem moradia, não tem segurança alimentar e trabalho.

Então a prioridade é a gente ter o direito a reproduzir as nossas vidas em Florianópolis e que aí volta aquele questionamento sobre ser uma cidade acolhedora.

A gente precisa ser respeitada na rua e parar de sofrer essas microviolências – que pra mim são muitas violências. Como esses xingamentos que vêm de pessoas, que gritam de dentro do carro, tacam garrafa e tentam nos eliminar dos lugares onde estamos.

Por exemplo, se a gente está num trabalho, começam a criar fofoca; se a gente está numa faculdade, começam a ter embates. Precisamos fazer um contorno de uma questão de visibilidade, mas uma visibilidade mais massiva, tipo uma guerrilha. Porque é muito difícil a gente estar vivendo em situações em que a gente não consegue ter esse acesso. Então, a minha prioridade vai ser o combate às violências e conseguir dar um acesso às pessoas LGBTs as suas reproduções de vida”.

Sobre as entrevistas aos candidatos LGBT+

Para a realização das entrevistas foram mapeadas as candidaturas LGBT+ com o cruzamento dos dados da plataforma de divulgação de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E entrou-se em contato com cada um dos candidatos mapeados, fazendo as mesmas perguntas à todas e estimulando que participassem das entrevistas.

“Com essa abordagem, nossa proposta é continuar dando visibilidade para a comunidade e mostrando que nós estamos disputando esses espaços. Além de evidenciar para as lideranças e pessoas que fazem acontecer dentro da comunidade, que elas também podem disputar uma vaga no parlamento”, afirma o editor-chefe do Floripa.LGBT Danilo Duarte.

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