Transfobia ambiental é um dos termos que ganhou espaço durante o G20 social, que aconteceu no Rio de Janeiro na última semana. De acordo com movimentos LGBTI+, as pessoas trans estão entre as mais atingidas por desastres ambientais, pois além de perder bens e moradia, enfrentam o preconceito em abrigos e a dificuldade em acessar serviços públicos.
A afirmação foi feita por integrantes de movimentos LGBTI+ na última sexta-feira (15), durante o G20 social, no Rio de Janeiro, que participaram da atividade Tragédias Ambientais e o impacto para a população LGBTI+. As informações são da Agência Brasil.
Um dos exemplos de desastres ambientais recentes de grande impacto são as enchentes que assolaram o Sul do Brasil no primeiro semestre de 2024. Pouco mais de seis meses após as enchentes no Rio Grande do Sul, os impactos sociais continuam sendo discutidos e sentidos pela população.
Um novo termo tem sido debatido entre especialistas e movimentos: a transfobia ambiental, baseada no conceito de racismo ambiental, usado para mostrar como catástrofes ambientais – enchentes, secas, contaminação – impactam de forma mais severa as populações das periferias.
Pessoas trans tem mais dificuldade em acessar ajuda emergencial
Desabrigadas, as pessoas trans podem ser discriminadas de várias formas, como restrição de uso de banheiros e desrespeito com o nome social e a identidade de gênero. De acordo com a vice-presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Keila Simpson, a população trans tem mais dificuldade para acessar ajuda emergencial.
“Quando abandonam os locais onde vivem e as casas para ir para espaços coletivos, muitas vezes as pessoas não querem dividir espaço com travestis. É uma grande violência e discriminação na vida de uma pessoa que já vem de um sofrimento, que já perdeu as próprias coisas. Quando busca abrigo nesse contexto de vulnerabilidade ainda há o processo de exclusão”, afirma Keila.
A presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Bruna Benevides, afirma que a associação realizou um seminário para discutir os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul e ouvir as pessoas trans atingidas.
“Foi um cenário preocupante. Naquele momento, as pessoas estavam passando por uma tragédia e as pessoas trans não estavam podendo fazer a retirada de kits de higiene ou cesta básica. Eram entregues em unidades militares e essas pessoas estavam sendo proibidas de entrar em quartéis”, relata.
Transfobia ambiental e as demandas da população LGBTI+
Segundo Victor de Wolf, presidente da ABGLT e diretor da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Pessoas Trans e Intersexos (ILGALAC) para o Brasil, a partir das atividades e diálogos no G20 Social, a intenção é enviar um documento com as principais demandas da população LGBTI+ para os líderes mundiais.
Wolf defende a importância da participação da população LGBTI+ em espaços de discussão internacional. É preciso “entender a participação da sociedade civil como mecanismo e como é possível, pela pressão, como pode influenciar nos mecanismos internacionais e influenciar decisões de governos e atuar junto a instituições”, enfatiza.
* Sob supervisão de Danilo Duarte