'Marcou minha vida': 1º presidente LGBT de time de futebol comemora acesso à Série A em SC
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‘Marcou minha vida’: 1º presidente LGBT de time de futebol comemora acesso à Série A em SC

Moisés Spillere contou ao ao Floripa.LGBT sobre sua história de sucesso no Caravaggio e o desafios de ser cartola em um ambiente heteronormativo

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Quem poderia dizer que um antigo time amador de futebol de Santa Catarina iria se profissionalizar e chegar na primeira divisão do futebol catarinense em tão pouco tempo? Esse é um questionamento legítimo, que até o próprio presidente do Caravaggio Futebol Clube, Moisés Spillere, se faz após a conquista do time no último domingo (11), quando venceu o Juventus e agora já está classificado para a final da Série B. Ele é o primeiro dirigente de futebol assumidamente LGBT+ a frente de um clube no Estado.

'Marcou minha vida': 1º presidente LGBT de time de futebol comemora acesso à Série A em SC
Moisés Spillere é presidente de um clube de futebol em Nova Veneza, uma cidade com cerca de 5 mil habitantes – Foto: Internet / Reprodução / Floripa.LGBT

O recente sucesso do Caravaggio é um fruto de um trabalho de anos, no qual Spillere, uma das primeiras pessoas LGBT+ à frente de um time de futebol no Brasil, esteve envolvida. Em entrevista ao Floripa.LGBT, Moisés contou sobre a conquista do time e sua trajetória.

“Foi o dia mais importante da história do Clube, porque foi um projeto que iniciou há três anos [em 2021, quando o Clube se profissionalizou]”, conta Moisés.

Analisando o contexto, o presidente percebe a subida do time como um “marco”, já que em Santa Catarina há vários clubes na segunda divisão, que segundo ele são bem tradicionais, organizados e possuem até torcidas maiores do que a do Caravaggio.

“É algo para se comemorar, com certeza. [O acesso à série A] foi uma emoção muito forte para todos que fazem esse clube acontecer. Foi algo de fato incrível e que marcou minha vida”, admite.

O Caravaggio alçou a primeira divisão em partida contra o Grêmio Esportivo Juventus, de Jaraguá do Sul, no último domingo (11). Agora, o clube vai encarar o Santa Catarina Clube, de Rio do Sul. As partidas acontecerão nos dias 17 e 25 de agosto, quando eles disputarão o título da segunda divisão do Campeonato Catarinense.

Da torcedor a presidente

Desde criança Moisés frequentava as escolinhas de futebol, mas admite que nunca foi um “exímio jogador”. Mesmo assim, o pequeno torcedor do Caravaggio continuava a frequentar por ser tradição as crianças participarem da escolinha após o contraturno escolar, um ritual da comunidade desde a década de 1990.

Assim ele passou sua infância e adolescência, acompanhando o clube e indo assistir os jogos – tanto dentro quanto fora de casa -, mesmo sendo um time amador na época. Foi só em 2017 que Moisés passou a fazer da equipe do Caravaggio, quando entrou na diretoria como voluntário.

'Marcou minha vida': 1º presidente LGBT de time de futebol comemora acesso à Série A em SC
Presidente desde 2022, Moisés posa com a bandeira do Caravaggio – Foto: Fabrício Júnior / Caravaggio / Reprodução / Floripa.LGBT

Depois disso, o atual presidente foi ganhando espaço dentro da equipe, até que na Gestão 2019-20, se torna diretor financeiro. E logo após, na Gestão 2021-22, vira vice-presidente, auxiliando, o então gestor do Caravaggio na época, a profissionalizar o time.

“Porque até então o clube só atuava no futebol amador e a partir de maio de 2021, ele vai para o para o futebol profissional”

Após a profissionalização do time, na Gestão 2023-24, Moisés Spillere assume como presidente. Segundo ele a equipe gestora do clube sempre vai se renovando, mas a base se mantém. “Ela vai se oxigenando conforme o tempo vai passando, mas o planejamento, filosofia e a metodologia de trabalhos continua a mesma”, conta o presidente.

A homofobia dentro do futebol

Em 2023, Moisés ganhou notoriedade em alguns portais por ser o primeiro presidente LGBT+ de um time de futebol e segundo ele isso acabou gerando um pouco de “tensão” no início de sua gestão.

“Alguns companheiros de direção ficaram preocupados que a imagem do clube fosse atrelada a imagem do presidente. É claro que naquele momento a gente pode considerar que isso tivesse haver com a questão da minha orientação”, constata Spillere.

No entanto, o presidente conta que houverem algumas conversas com a diretoria, que passaram pela ideia de não “personificar” o time na figura do Spillere. Mas ao mesmo tempo levantar bandeiras importantes e ser um Clube inclusivo.

“O futebol ainda é um esporte muito preconceituoso. Seja com a questão da LGBTfobia ou também com as mulheres. Agora que as mulheres estão conseguindo um espaço melhor com relação ao futebol. Mas a gente considera que já foi muito pior”

Nesse sentido, Spillere considera que os talentos LGBT+ que surgem no futebol tem um papel importante de representatividade e que isso acaba influenciando o meio de maneira positiva.

E mesmo que haja uma reação contrária de pessoas avessas a mudanças no esporte, Spilleer diz que se sente lisonjeado em contribuir para o debate, mesmo sendo de um cidade pequena, no interior de Santa Catarina.

* Sob supervisão de Danilo Duarte

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