Por Gustavo Bruning, especial para o Floripa.LGBT
A tela de início da Netflix amanheceu com uma novidade nesta quinta-feira (3). Após mais de um ano de espera, chegou à plataforma de streaming a segunda temporada da série “Heartstopper”, baseada nas graphic novels da britânica Alice Oseman. A produção traz um mergulho em temas que os LGBTQIA+ frequentemente lidam na adolescência e juventude: da autodescoberta ao bullying e da aceitação da família ao fortalecimento de amizades.
A história é contada com um ar de fantasia e encanto, digno das sensações provocadas por uma primeira paixão. Elementos visuais da graphic novel ajudam a dar a identidade ao seriado. A segunda temporada traz oito episódios de cerca de 30 minuto cada, assim como o ano anterior.
Assisti à primeira temporada de “Heartstopper” em junho de 2022 e me vi imediatamente fascinado – fazia um bom tempo que eu não maratonava algo.
Após conhecer a história de Charlie Spring (Joe Locke) e Nick Nelson (Kit Connor) nas telas, fui atrás dos quatro livros. A leitura é acompanhada por ilustrações da autora, que hoje tem 28 anos e também tomou as rédeas dos roteiros da série.
Durante algumas semanas carreguei os livros e li cerca de 10 páginas no início de cada manhã, a caminho do trabalho. Era como uma pequena dose de graça e esperança, que funcionou como uma forma de turbinar os meus dias e garantir um vislumbre de como a vida pode ser leve. A expectativa antes de iniciar o primeiro episódio da segunda temporada era grande.
E é essa, justamente, a graça de “Heartstopper”. Mesmo lidando com temas espinhosos e, nesta segunda temporada, ainda mais densos, vemos tudo diante de uma ótica de afeto, como se cada momento fofo ou conquista dos personagens fosse um abraço além da tela.
Em meio a tantas adaptações de histórias LGBTQIA+ tomadas por tragédia, é bom demais visualizar as coisas dando certo e estes personagens vencendo batalhas pelas quais já passamos.
Quando abro a Netflix e vejo séries como essa e “Young Royals” estampando a página de lançamentos, fico ainda mais satisfeito por pensar em como muitos adolescentes LGBTQIA+ de hoje têm a chance de se verem representados. Por mais que “Heartstopper” ainda traga um recorte privilegiado, não faltam tramas palpáveis para quem já cruzou ou está a caminho da jornada de autodescoberta.
A segunda temporada, cujo arco principal se passa durante uma viagem escolar a Paris, amplia os temas discutidos. Enquanto Nick fica mais à vontade com a bissexualidade e lida com um pai ausente, Charlie sente os impactos de um transtorno alimentar.
Já Elle (Yasmin Finney), que na temporada anterior trocou de escola, após se assumir transexual, vê a amizade com Tao (William Gao) caminhar em uma direção inesperada. Os novos episódios também expandem nas dificuldades escolares e turbulências do romance, como um “eu te amo” que não é dito de volta.
No fim das contas, “Heartstopper” é sobre as coisas mais simples da vida: gostar de alguém e se importar. Junto vem a reflexão de que não é preciso dar satisfação aos outros sobre quem somos e de que há, sim, a possibilidade de sentir uma eletricidade diferente ao estar perto de uma pessoa especial.
É esse sentimento de nervosismo incomparável que dá nome à série – “de parar o coração”, em português – e pode ser a semente para que muitos espectadores tenham um olhar mais esperançoso para o presente e o futuro.