Os desenhos infanto-juvenis, por muito tempo, fizeram parte apenas de um universo dominado por personagens heterossexuais e histórias tradicionais. No entanto, nos últimos anos, uma nova geração de desenhos animados tem desafiado esses padrões, trazendo para a tela personagens LGBTQIA+ e abordando temas como identidade de gênero e orientação sexual de forma natural e respeitosa. Por isso, o Floripa.LGBT separou uma lista de 5 desenhos que falam sobre diversidade de alguma forma.
1. Hora de Aventura
A série de aventuras de Finn e Jake, além de conquistar o público com sua criatividade e humor, marcou, sobretudo em suas temporadas finais, ao abordar a relação entre Marceline e Princesa Jujuba. Essa representação sáfica, tratada com naturalidade e respeito, abriu portas para discussões sobre diversidade sexual nos desenhos.
A espera dos fãs por um momento mais explícito entre as duas personagens chegou ao fim no emocionante episódio final. O beijo entre Marceline e Princesa Jujuba, apelidado carinhosamente de “Bubbleline” pelos fãs, consolidou a relação das duas e marcou um marco na representação LGBTQIA+ nos desenhos.
A decisão de incluir esse momento marcante no último episódio foi um processo colaborativo. Adam Muto, produtor do desenho, revelou em entrevista que a cena não estava inicialmente nos planos, mas que a desenhista responsável, Hanna K. Nyströmthe, teve a liberdade de criar esse momento especial. A relação entre as duas personagens, segundo Muto, foi desenvolvida ao longo da série, impulsionada pela visão da ex-roteirista Rebecca Sugar.
Além disso, o spin-off “Fionna e Cake” trouxe mais representatividade com o casal Marshall Lee e Príncipe Chiclete. Com uma abordagem sutil e gradual, Hora de Aventura cativa pela naturalidade ao tratar da diversidade dentro de um mundo de fantasia.
Hora de Aventura está disponível no Max, Netflix e Prime Video.
2. She-Ra e as Princesas do Poder
Desde sua estreia, “She-Ra e as Princesas do Poder” trouxe um novo olhar sobre as icônicas personagens do universo do desenho dos anos 1980. Além de apresentar princesas fortes e diversas, a série foi gradativamente destacando relações LGBTQIA+ de forma natural e representativa.
Casais como Netossa e Spinnerella, além dos pais de Arqueiro, um casal gay, são exemplos de como a série abordou a sexualidade sem estereótipos. Junto a isso, o relacionamento entre Adora (She-Ra) e Felina (Catra) é desenvolvido de forma emocionante, passando por tensão, amizade e amor até culminar em um casal no final da série.
A série, desenvolvida por Noelle Stevenson, também é celebrada por reimaginar She-Ra equilibrando ação, humor e mensagens poderosas sobre aceitação, tornando-a acessível e inspiradora para diferentes públicos.
O desenho tem 5 temporadas e está disponível na Netflix.
3. A Casa da Coruja
Criada por Dana Terrace, “A Casa da Coruja” se destacou por apresentar a primeira protagonista bissexual em uma série do Disney Channel. Luz Noceda, uma adolescente latina que descobre um portal para um mundo mágico, vive um romance com Amity Blight, uma jovem bruxa que inicialmente era sua rival.
A relação entre Luz e Amity evolui ao longo do desenho, com momentos marcantes como o baile de final de ano no episódio 16, onde as duas vão juntas. Dana Terrace, que também é bissexual, revelou que desde o início de “A Casa da Coruja” a quis incluir personagens LGBTQIA+ no elenco principal.
No entanto, enfrentou resistência inicial por parte de lideranças da Disney. “Quando aceitaram o projeto, ouvi de alguns líderes que eu não poderia representar qualquer relação bi ou gay na série”, contou.
Apesar dos desafios, Terrace persistiu: “Minha teimosia valeu a pena e agora eu estou recebendo todo o apoio das atuais lideranças da Disney”, escreveu em suas redes sociais. A criadora destacou que representatividade importa e que continuará explorando temas importantes tanto para ela quanto para sua equipe.
O desenho está disponível no Disney+.
4. Steven Universo
“Steven Universo”, criado por Rebecca Sugar, marcou a história ao exibir o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo na TV infantil. No episódio “Reunidas”, transmitido em julho de 2018 nos Estados Unidos, Rubi e Safira oficializaram sua união, um momento que consolidou a importância de narrativas queer no entretenimento para crianças.
O caminho até esse marco, no entanto, foi repleto de desafios. Rebecca Sugar explicou, em entrevista ao Entertainment Weekly, que a relação entre Rubi e Safira começou a ser desenvolvida em 2014, quando as características de ambas e a fusão que formam, Garnet, estavam sendo criadas. O episódio “Libertador”, exibido em 2015, foi o primeiro a sugerir claramente a conexão amorosa das duas.
“Foi aí que comecei a me deparar com as limitações do que poderia fazer”, revelou Rebecca. “A injustiça absoluta de poder desenvolver certos relacionamentos e ter um teto para outros era muito clara”, diz.
Na época, o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda não era legalizado nos Estados Unidos, e Rebecca enfrentou resistência para mostrar a relação de Rubi e Safira como um casal.
“Fui avisada de que o desenho não poderia ser categorizado como conteúdo gay e que havia um limite para o quão próximas essas personagens poderiam ser”, contou.
Com a legalização do casamento igualitário nos EUA em junho de 2015 e o avanço da representatividade LGBTQIA+ no entretenimento, Rebecca finalmente pôde mostrar a história de amor de Rubi e Safira de forma plena. O casamento foi um ponto de celebração para os fãs e um passo significativo para a visibilidade LGBTQIA+ em mídias infantis.
“Precisamos mostrar para as crianças (homossexuais) que elas pertencem a esse mundo”, afirmou Rebecca. “Você não pode esperar elas crescerem para falar isso, ou o estrago já estará feito. Quando crianças crescem sem ver histórias infantis com personagens LGBT, elas aprendem que essas histórias são inapropriadas. Isso precisa mudar.”
O impacto cultural do desenho “Steven Universo” vai além do entretenimento, criando um espaço de aceitação e inclusão para jovens espectadores de todas as orientações e identidades.
O desenho está disponível na Netflix, Max e Prime Video.
* Sob supervisão de Danilo Duarte