Quando algo é queerbaiting? De Sabrina Carpenter a Bela e a Fera, polêmica é frequente na web
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Quando algo é queerbaiting? De Sabrina Carpenter a Bela e a Fera, polêmica é frequente na web

Sabrina Carpenter lançou o clipe de “Taste” e virou assunto por possível queerbaiting; Floripa.LGBT repercutiu o tema com influencers de cultura pop

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A cantora Sabrina Carpenter caiu na boca da internet nas última semanas e não foi só por causa do lançamento de seu novo álbum “Short n’ Sweet”. A ex-Disney foi acusada de queerbaiting – termo que se refere a apropriação da causa LGBTQIAPN+ para retorno financeiro ou de popularidade – após o lançamento do clipe da música “Taste”. O Floripa.LGBT foi atrás de pessoas falam sobre cultura pop e temáticas LGBT+ para entender qual é a visão delas sobre o tema.

Quando algo é queerbaiting? De Sabrina Carpenter a Bela e a Fera, polêmica é frequente na web
Clipe “Taste” foi lançado na última sexta (23) e teve participação da atriz Jenna Ortega – Foto: Reprodução / YouTube / Floripa LGBT

No vídeo, Carpenter aparece beijando a atriz Jenna Ortega, de “X: A Marca de Morte” e “Wandinha” e levantou a dúvida: isso pode ser considerado queerbaiting?

No clipe, que mistura referências de filmes como “Psicose” (1960) e “A Morte lhe Cai Bem” (1992), e até “Kill Bill” (2003), Sabrina e Jenna entram numa disputa violenta, que inicia pelo interesse das duas pelo mesmo homem, até que no final do clipe elas deixam a rivalidade de lado e se beijam.

Foi só lançar o clipe, que começou a se discutir nas redes sociais se a cantora pop estaria se apropriando da pauta LGBT+ para fazer sucesso ou não.

“Vocês sabem que isso é queerbaiting, certo? Tipo, a Sabrina não é gay e não devia estar postando algo assim ao menos que ela queira se assumir, se não ela está fazendo queerbaiting por visualizações”

Ana Paula Barbosa, que tem o perfil no Instagram “Narrativa Feminina“, discute cinema e cultura pop por uma perspectiva feminista e LGBTQIAP+.

Ela explica que o queerbaiting é uma isca (“bait”) utilizada para atrair o público LGBT+ sem desagradar os conservadores, abusando de insinuações LGBTQIAPN+ em um personagem ou em um relacionamento, mas que nunca se concretiza de fato. Portanto, nada LGBT acontece de fato na história, apenas insinuações.

Para a influencer, o beijo de Sabrina e Jenna não foi um queerbaiting, isso porque o beijo faz todo o sentido na história que está sendo contada.

“Na letra a Sabrina diz que quando a garota beijar o rapaz, essa garota vai sentir o gosto dela. E é uma situação em que a personagem da Jenna acha que está vendo uma coisa, mas não é aquilo. Ou seja, é uma história contada e que tem um contexto”, disse, em entrevista ao Floripa.LGBT.

Apesar disso, a interpretação de Ana Paula sobre o clipe, não foi algo que todas as pessoas da comunidade enxergaram. A drag catarinense Lady de Rosas, que também faz vídeos sobre cinema e cultura pop, considera que o beijo entre as duas atrizes pode ser considerado um chamariz para pessoas da comunidade.

Segundo Lady, no mundo das estrelas pop, existe muito o conceito de “rainha LGBT”, “diva” e “mãe das gays” que essas personalidades usam ao seu favor. “Nós LGBT+, devemos prestar mais atenção nas pessoas que chamamos de ‘rainhas’ e ‘deusas'”, alerta a drag.

Outros exemplos de “isca LGBT” na cultura pop

Além do clipe de Sabrina, entre os exemplos que Lady de Rosas considera queerbaiting está o filme live-action da “Bela e a Fera”, de 2017. No caso, o personagem LeFou foi prometido nas divulgações do filme como o primeiro abertamente LGBT da Disney e que a sexualidade dele seria explorada.

No entanto, além de algumas cenas sugestivas sobre os sentimentos do personagem com Gaston, a única que deixa um pouco mais clara sua sexualidade, são exatos três segundos, ao final do filme, quando LeFou troca olhares ao dançar com outro homem.

Em entrevista ao site The Independent, Josh Gad, ator que deu vida ao LeFou no filme de 2017, se disse arrependido pela forma como seu personagem foi retratado no filme.

“Meu arrependimento com o que aconteceu é que se tornou ‘o primeiro momento gay da Disney’ e não era para ser isso. Nunca era para ter sido um momento que deveríamos ter nos elogiado, porque francamente, não acho que fizemos justiça ao que um personagem gay em um filme da Disney deveria ser”, afirmou o ator.

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Filme de 2017 faz insinuações sobre a relação de Le Fou com Gaston – Foto: Reprodução / Floripa.LGBT

Outro exemplo de queerbaiting na cultura pop é a série “Sherlock”, segundo Ana Paula. “O Sherlock e o Watson eram muito shippados pelo público e a série começou a provocar isso dentro da narrativa, e colocar personagens perguntando constantemente para os dois se eles eram um casal, além de cenas que davam a entender que eles tinham algo mais ou que eram casados. Mas eles nunca tiveram a coragem de concretizar esse casal”, explica.

A séria protagonizada por Benedict Cumberbatch e Martin Freeman, constantemente enquadrava os personagens dos dois atores de forma sugestiva, ou que dava a entender que havia algum tipo de tensão sexual entre os dois.

Além disso, ao longo da série, algumas escolhas de atuação, como um contato visual intenso e longo entre os personagens, alimentarem ainda mais essa ideia de que Sherlock e Watson eram um casal.

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Série Sherlock também foi acusado de queerbaiting em seu lançamento – Foto: Divulgação / Floripa.LGBT

Junto a isso, o criador da série deu algumas declarações que reforçavam essa ideia aos fãs. Em 2010, por exemplo, ele afirmou que achava interessante flertar com o “homoerotismo” na série.

Já em outra entrevista, em 2012, ele disse: “Acho que John Watson é apaixonado e fascinado por Sherlock Holmes. Acho que Sherlock Holmes confia completamente e totalmente em John Watson e é devotado a ele”. No entanto, nada disso se concretizou nos personagens formarem de fato um casal.

Qual é o problema do queerbaiting?

“O problema é enganar. Criar expectativas de representatividade e visibilidade para os LGBT+, apenas para atrair mídia e comentários nas redes sociais. A gente se sente usado”, responde Lady de Rosas sobre qual é o real problema do queerbaiting para ela.

Resposta que vai ao encontro com o que foi dito por Ana Paula, que acrescenta que o queerbaiting inviabiliza pautas importantes e dificulta o processo de naturalização de romances LGBT+ na sociedade.

“É como se pessoas da comunidade não pudessem demonstrar afeto, carinho e amor como as pessoas heterossexuais, e precisassem ser discretas. As pessoas nessas produções só querem o dinheiro e o público LGBTQ+. Então eles sabem que é um público importante, que é ativo e que tem que se conquistar. Mas eles não estão interessados em dar uma representatividade de fato”, argumenta Ana Paula.

No entanto, a influencer do perfil Narrativa Feminina, expõe que apesar de existir o pink money – termo usado para caracterizar a comercialização de produtos para o público LGBT – no meio artísticos, “pessoas reais não fazem queerbaiting”.

Ela argumenta que o termo se aplica apenas em mídias fictícias, sendo uma estratégia de marketing nociva utilizadas pelas produções. Portanto, não se aplicando a pessoas reais, pelo fato de “todos terem direito a privacidade”.

Um exemplo, do que foi dito por Ana Paula, pode ser visto no caso de Billie Elish, quando lançou seu clipe “Lost Cause”, em 2021,e que foi acusada de queerbaiting, sendo que a cantora já havia dito tempos antes, que sua sexualidade era apenas “da conta dela”.

Agora, anos depois, Billie se assumiu bissexual e em seu novo álbum “HIT ME HARD AND SOFT” escreveu algumas faixas que tocam no assunto da sua descoberta e de relações que teve com mulheres.

“Nenhuma pessoa real deve ser acusada de queerbaiting, pois a gente não vive num mundo que abraça pessoas LGBTQIAPN+ com facilidade. Vivemos num mundo nocivo a essa comunidade. Então toda pessoa tem direito a sua privacidade”.

* Sob supervisão de Danilo Duarte

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