A edição de 2024 da Diversa Feira Cultural LGBTI+ foi cancelada. A confirmação no comunicado divulgado no último domingo (8) pela ONG Acontece Arte e Política LGBTI+, que organiza o evento. Entre os motivos apontados estão a falta de apoio da Prefeitura de Florianópolis e a ausência de patrocinadores privados para a realização do evento.
A ONG apontou que a Prefeitura se comprometeu com o apoio financeiro e estrutural da Feira Diversa, mas que “após muitas reuniões impôs restrições inviáveis, culminando no adiamento da Parada do Orgulho LGBTI+ de Florianópolis de 8 de setembro para 17 de novembro e no cancelamento de outros eventos importantes, como a Diversa”.
Ao fim do comunicado a Acontece afirma que manterá sua atuação, apesar do cancelamento da feira:
“Continuaremos cobrando políticas públicas e direitos humanos para a nossa comunidade e trabalhando para viabilizar a promoção e valorização de todas nós!”
Falta de apoio aos eventos LGBT+
De acordo com Alexandre Bogas, diretor executivo da Acontece Arte e Política LGBTI, a ONG também fazia parte da Comissão Organizadora da Parada do Orgulho LGBTI+ até a edição deste ano. E com a falta de apoio, tanto o adiamento da Parada do Orgulho LGBTI+ e quanto o cancelamento da Feira Diversa estão diretamente associados.
No perfil do Instagram, a direção da Acontece publicou, em março de 2024, que a Prefeitura se comprometeu com 40% do custo total da Parada. No entanto, em maio, a ONG recebeu a informação que o munícipio não poderia licitar a estrutura e apenas continuar com o patrocínio de 40%, devido ao período eleitoral.
Já no mês de julho, Bogas aponta que a Prefeitura informou à Acontece que não poderia apoiar eventos nos 90 dias anteriores à eleição municipal de outubro – seguindo legislação eleitoral -, forçando a adiar a Parada de Floripa de 8 de setembro para 17 de novembro e acarretando a não produção da Parada pela Acontece, embora a associação se mantenha na comissão organizadora do evento, assim como agora o cancelamento da Feira Cultural LGBTI+ Diversa.
“Agosto se finda e não temos contrato assinado e nem certeza de data de repasse do recurso, e com outros patrocinadores não é possível executar todo o necessário. A Prefeitura Municipal de Florianópolis se comprometeu com a nossa comunidade sem assumir as responsabilidades, sendo negligente”, afirmou a Acontece em comunicado.
Alexandre Bogas explicou que para a realização da Feira Diversa eles precisavam solicitar o espaço do evento com pelo menos dois meses de antecedência. Por isso havia a necessidade de saber se haveria o financiamento da Prefeitura ao evento.
Além da parte envolvendo o munícipio, também houve uma falta de apoio do setor privado para a realização da Feira. O evento, apesar de ter sido aprovado na Lei Rouanet e em outros editais, não conseguiu encontrar patrocinadores.
“Na busca por empresas, nem sempre elas priorizam a temática LGBT+. A gente procurou mais de 6o empresas catarinense e nacionais. Elas nos recebiam, ouviam e acolhiam, mas diziam que já tinham orçamentos fechados para outras pessoas e outros projetos”, relatou o diretor executivo.
O impacto na comunidade LGBT+
“O impacto do cancelamento da Feira na comunidade é péssimo”, afirma Alexandre. A Feira é um projeto anual responsável movimentar tanto a arte quanto o empreendedorismo LGBT+.
Apenas em 2023, por exemplo, a Diversa movimentou mais de 50 artistas e produtores da comunidade LGBTI+ não apenas da Capital, mas de cidades vizinhas e de empreendedores que viajaram até Florianópolis para participar da exposição.
O diretor executivo destaca diversos concursos que eram formas de dar oportunidade a artistas LGBT, como o “Voz Diversa”, que era uma competição onde pessoas LGBTQIA+ apresentavam uma música e os três primeiros colocados recebem a oportunidade de se apresentar no trio e no palco da Parada.
Bogas também destaca o concurso “Rainha Diversa”, onde várias drag queens se apresentavam e as três primeiras colocadas também participavam da Parada. Movimentando, assim, a cena cultural e o trabalho artístico dentro da comunidade.
Além da parte artística, com o cancelamento da Feira há a perda de um importante vetor do empreendedorismo LGBT+, já que a feira conta com pessoas da comunidade que produzem artesanato, pinturas, roupas, comida etc.
“É uma forma de fomentar isso, e sem a Feira, as pessoas perdem a oportunidade de um espaço seguro e acolhedor para elas”, explica Bogas.
A feira é organizada pela Acontece Arte e Política LGBTI+, uma organização fundada em 2013 e que atua em diversas frentes como a criação e implementação de políticas públicas, o combate à violência e a discriminação, e a promoção da cultura e da arte LGBTI+.
O Floripa.LGBT entrou em contato com Prefeitura de Florianópolis para questionar sobre a falta de apoio a Feira Diversa, mas não houve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
Confira o comunicado na íntegra:
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* Sob supervisão de Danilo Duarte
