A escola de samba Paraíso do Tuiuti promete um desfile histórico no Carnaval do Rio de Janeiro, trazendo para a Marquês de Sapucaí o enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”. A homenagem à primeira travesti (não indígena) registrada no Brasil também será um grito de resistência contra a transfobia e a marginalização da população trans no país.

A Paraíso do Tuiuti será a segunda escola a desfilar no dia 4 de março e contará com a presença de diversas lideranças trans e travestis.
Entre os nomes confirmados estão as deputadas federais Érika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), além da deputada estadual Dani Balbi (PCdoB-RJ) e da vereadora Amanda Paschoal (PSOL-SP).
Lideranças trans participam do desfile
A deputada Erika Hilton celebrou sua participação no desfile e destacou a importância de contar essa história para um público tão amplo. “Nós sempre estivemos no carnaval, pessoas trans e travestis, comunidade LGBTQIA+, mas faltava ter nossos heróis e heroínas”, afirmou. “Vai ser grandioso fazer o povo conhecer essa história e cantar ‘eu travesti’,” completou, em referência a um trecho do samba-enredo.
“Eu espero que o maior recado seja dado: basta de preconceito, intolerância e ódio. Outras Xicas não podem mais ir para fogueira”, ressaltou a deputada.
Outras presenças marcantes no desfile serão Jovanna Baby, fundadora do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans); Bruna Benevides, presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e primeira travesti a se assumir na ativa da Marinha do Brasil; e Eloina dos Leopardos, pioneira como rainha de bateria no Carnaval carioca em 1976.
Projeto social capacita mulheres trans para o mercado do Carnaval
Com o objetivo de ampliar a inclusão de pessoas trans no Carnaval, a Tuiuti, em parceria com a Antra, criou o projeto social Transcidadania no Samba, voltado à capacitação profissional de mulheres trans e travestis.
O projeto ofereceu cursos de aderecismo, costura e samba no pé, preparando as alunas para atuarem na indústria do Carnaval. As 12 participantes selecionadas integrarão uma ala especial do desfile, em homenagem à icônica Eloína dos Leopardos, primeira travesti a ocupar o posto de rainha de bateria.

Quem foi Xica Manicongo?
O enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, traz para a Sapucaí a história de Xica Manicongo, uma mulher trans escravizada que viveu em Salvador no século 16. Xica trabalhava como sapateira e, mesmo enfrentando a violenta repressão da época, recusava-se a aceitar o nome e os trajes masculinos impostos a ela.
Denunciada ao Tribunal do Santo Ofício, foi condenada à morte e queimada viva em praça pública sob acusação de sodomia. Sua história simboliza a resistência de uma população que, até os dias de hoje, enfrenta violência e exclusão.
Ao levar Xica Manicongo para o centro do Carnaval carioca, a Paraíso do Tuiuti não apenas resgata sua história, mas também fortalece a luta contra a transfobia, celebrando a diversidade e a presença das travestis e transexuais na cultura brasileira.
Confira a arte “Quem tem medo de Xica Manincongo?”:
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