A história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti do Brasil, será contada pela Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, uma das principais agremiações carnavalescas do Rio de Janeiro.
A agremiação do Morro do Tuiuti, localizada no bairro de São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro, trará para o carnaval carioca um desfile LGBTQIA+ em seu enredo para o próximo ano. O tema será desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.
“No dia do nosso aniversário de 72 anos, quem ganha o presente são vocês! Vamos fazer história juntos! Quem tem medo de Xica Manincongo?” é o título do enredo do Paraíso do Tuiuti para o Carnaval 2025″, publicou a agremiação em suas redes sociais.
Na postagem, feita no dia 5 de abril, a escola de samba também compartilhou a logo do enredo, assinada pelo designer e ilustrador Antonio Vieira. As informações são da Agência Brasil.
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Nascida no Congo, Xica foi escravizada e levada para Salvador no século 16, onde trabalhou como sapateira.
Por não se vestir com trajes voltados para o público masculino, ela foi perseguida e se tornou alvo da Inquisição, tribunal voltado para condenar e punir condutas contrárias aos princípios da fé católica.
Para fugir da pena de ser queimada viva em praça pública, ela abdicou de suas roupas e adotou o estilo de vida comum aos homens da época.
Sua história ganhou visibilidade a partir dos anos 1990, devido às pesquisas do antropólogo Luiz Mott.
Samba-enredo sobre Xica Manicongo repercute
Um dos primeiros comentários veio da Antra (Associação Nacional de Travestis e transexuais), que publicou um longo texto a respeito da escolha e da história de Xica.
“O primeiro caso de transfobia registrado nesse país. No final dos anos de 1500 Xica foi perseguida, humilhada e proibida de expressar sua identidade feminina, sendo obrigada a se vestir de forma diferente da que desejava. Uma violência enorme! Inclusive sob o risco de perder sua vida e ser levada a fogueira caso ousasse seguir vivendo aberta e publicamente como uma pessoa dissidente de gênero. Essa violência de gênero resultou na sua morte em vida, pois ela teve que seguir vivendo sem ser quem era de fato. Por justiça e reparação, Xica Vive e a @paraisodotuiutioficial torna pública a história das milhões de Xicas que até hoje são invisibilizadas, perseguidas e proibidas de serem quem são. Viva!”
Outros comentários também exaltam a escolha da Paraíso do Tuiuti. “Eu sou travesti e tô muito feliz com esse enredo! Quem tem medo de Xica? Quem tem medo de Travesti ???”, escreveu uma seguidora. “Chamem artistas trans pra comporem a cenografia do desfile!!!! Eu tô disponível hein”, emendou outra.
Outro comentário veio de um perfil que relembrou a história de Xica. “Talvez um dos enredos mais emblemáticos. Xica Manicongo foi a primeira vítima negra de transfobia no Brasil, para não ser condenada a morte voltou a se vestir como cisgênero.”