Há muito tempo o terror foi utilizado como forma de trazer comentários sobre diversos tipos de questões sociais, desde o racismo, passando pelo machismo e indo até a própria vivência LGBT+. Isso pode ser visto tanto no subtexto quanto explicitamente, seja em “Frankstein” (1931), “Psicose” (1960) ou até no terror LGBT+ recente. Por isso com o Halloween chegando, o Floripa.LGBT resolveu separar uma lista de cinco obras de terror LGBT+ para você assistir neste mês.
1. Eu Vi o Brilho da TV (2024)
O mais recente filme da lista “Eu Vi o Brilho da TV” é um terror que tem pitadas de surrealismo “à la David Lynch“, mas se utilizando disso para tratar sobre disforia de gênero, depressão e pertencimento.
Dirigido e roteirizado por Jane Schoenbrun – que é um pessoa não-binária -,”Eu Vi o Brilho da TV” segue a jornada de Owen (Justice Smith), um adolescente comum vivendo sua rotina no subúrbio, até que uma colega, Maddy (Brigette Lundy-Paine), o apresenta a um misterioso programa de TV sobrenatural que só passa à noite.
Fascinados pela estranheza do programa, os dois jovens começam a confundir real a imaginário. Mas a questão é: será que o mundo de subúrbio que eles vivem é tão real quanto pensam?
No X, um usuário comentou sobre o filme: “Realmente impressionado com “Eu Vi o Brilho da TV. Apenas uma visão ousadamente original sobre autodescoberta e metáforas assustadoras para a experiência trans, explorando o conflito interno de questionar e aceitar a verdadeira identidade de uma pessoa de maneiras que nunca vi articuladas na tela”.
Really blown away by I SAW THE THE TV GLOW. Just a boldly original vision into self-discovery and haunting metaphors for the trans experience, exploring the internal conflict of questioning and accepting one’s true identity in ways I have never seen articulated on screen. Shaken… pic.twitter.com/jW8yrbUUan
— Jason (@jasonosia) January 19, 2024
Já a crítica de cinema Fabiana Lima pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) comentou sobre o filme de terror LGBT+:
“Até o momento ainda não tinha visto um filme que retratasse tão bem o que eu só penso que seja conviver com disforia de gênero. “I Saw The TV Glow” é um grande filme que com suas luzes neon e natureza queer une Cronenberg e Lynch em um exercício onírico sobre prisões e escapismos”.
O filme está disponível para aluguel no YouTube.
2. The Rocky Horror Picture Show (1975)
Considerado por muitos como um clássico cult, “The Rocky Horror Picture Show” é um marco para o terror LGBT+, trazendo em plenos anos 1970 uma mistura de musical e horror, com muita ironia.
A narrativa do filme inicia com o pedido de noivado entre um casal aparentemente conservador e heterossexual de Brad e Janet. Em uma noite com um forte tempestade, o carro deles quebra no meio de uma floresta perto de um castelo. E eles resolvem ir até o local para tentar fazer uma ligação.
A questão é que o castelo é ocupado por pessoas que o casal acham “estranhos”, com trajes elaborados que estão a celebrar uma convenção anual.
Mas então, Janet e Brad descobrem que a chefe da casa é Frank N. Furter, uma “cientista louca” que, na verdade, é uma travesti alienígena que cria um homem musculoso em seu laboratório.
A partir dessa trama inicial, o relacionamento do casal e a heteronormatividade deles vai ser colocada a prova em um musical extremamente engraçado e gótico.
O filme está disponível para assistir na Disney+.
3. Cidade dos Sonhos (2001)
A primeira vista, “Cidade dos Sonhos” não parece um filme de terror, mas conforme a trama vai andando você entra cada vez mais em uma viagem surrealista aterrorizante.
O crítico de cinema Matheus Fiore o descreve como “é um film noir, mas também é terror, drama, romance, fantasia… E é também um filme sobre filmes”.
Não é a toa que o terror LGBT+ é um dos grandes clássicos do início dos anos 2000 e é considerada a obra-prima de David Lynch, tendo inspirado diversos realizadores até hoje, inclusive Jane Schoenbrun, que pegou muito da “Cidade dos Sonhos” e da filmografia de Lynch como inspiração para “Eu Vi o Brilho da TV”.
A trama conta a história da jovem atriz Betty que viaja para Hollywood, quando conhece Rita, uma mulher misteriosa que escapou de ser assassinada, e que agora se encontra com amnésia devido a um acidente.
A jovem aspirante a atriz Barbie Betty viaja para Hollywood e conhece Rita, que escapou por pouco de ser assassinada, e que agora se encontra com amnésia devido a um acidente de carro. Juntas, vão em busca da verdade por trás da identidade de Rita.
No entanto, em meio a essa investigação, cada vez mais Rita e Betty vão se conectando e também a realidade e a imaginação vão se confundindo.
Por “Cidade do Sonhos”, Lynch recebeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes, em 2001, e, no ano seguinte, uma indicação ao Oscar na mesma categoria.
O filme está disponível para assistir na Mubi.
4. Espiral (2019)
“Espiral” é um filme de terror LGBT+ que se passa nos anos 90 e acompanha um casal, Malik (Jeffrey Bowyer-Chapman) e Aaron (Ari Cohen), que, junto com sua filha Kayla, se mudam para uma pequena cidade em busca de tranquilidade.
No entanto, o que deveria ser um novo começo, logo se transforma em um pesadelo quando Malik começa a desconfiar das intenções de seus vizinhos.
O filme explora temas como homofobia, preconceito e paranoia, com uma atmosfera tensa e perturbadora. Malik, que carrega traumas de um ataque homofóbico no passado, começa a perceber comportamentos estranhos em torno dele e questiona sua sanidade e segurança.
Dirigido por Kurtis David Harder, “Espiral” oferece uma narrativa que, além de tratar o terror psicológico, incorpora críticas sociais importantes, trazendo uma perspectiva queer para histórias de mistério e horror que geralmente são contadas por uma ótica heteronormativa.
O filme está disponível para assistir no Globoplay.
5. Garota Infernal (2009)
Apesar de não ser explicitamente um filme de terror LGBT+, devido ao seu subtexto, Garota Infernal ao longo do tempo se tornou um filme símbolo queer ao explorar temas como amizade feminina, atração sáfica, sexualização e entre outros.
“Garota Infernal” conta a história de duas amigas de infância Jennifer (Megan Fox) e Needy (Amanda Seyfried). Um dia as duas vão para um bar local, só que um incêndio faz com que várias das pessoas presentes morram, mas as duas amigas escapam. Em estado de choque após o acontecimento, Jennifer recebe o convite do vocalista para que conheça a van da banda.
No entanto, quando Jennifer se encontra com Needy novamente, ela passa a agir de forma estranha, por vezes arrogante e desprezando os mortos no incêndio. Consciente de que é objeto de desejo dos garotos da escola, ela passa a atraí-los e devorá-los, literalmente.
O filme é tão marcante para a comunidade, que Megan Fox em entrevistas, chegou a revelar que fãs do filme já pararam ela diversas vezes pra contar que a sua personagem de “Garota Infernal” as fizeram entender melhor a sua sexualidade.
Além disso, muitas pessoas pontuam no filme que a admiração de Needy por Jennifer vai além do que só uma amizade. Fazendo dele um filme que não dá pra esquecer em uma lista de terror LGBT+.
O filme está disponível para assistir na Disney+.
* Sob supervisão de Danilo Duarte