Você já ouviu falar de doramas? Séries asiáticas recheadas de drama e história complexas, as produções têm alcançado novos públicos a cada dia. Uma pesquisa produzida pelo Rakuten Viki, streaming de doramas, indicou que no ano de 2024 eram quase 10 milhões de assinantes brasileiros na plataforma.

Dentre os enredos, produções envolvendo a comunidade queer tem crescido de forma exponencial. Conhecidos como BL (Boys Love) e GL (Girls Love), o gênero ganhou público no Brasil. No ano de 2022, uma pesquisa feita pela mesma empresa indicou um aumento de 181% no consumo de doramas BL no país.
Com relações amorosas sensíveis desenvolvidas com o tempo, uma grande característica desse tipo de produção é a alta carga de drama. Para Hipólito C. Hipólito, profissional das artes cênicas, os doramas têm narrativas bem dramáticas e caricatas.
Apesar de serem histórias com altas cargas de drama, muitas vezes as histórias possuem finais “felizes”. Para Estela da Luz, muitos roteiros chegam a ser repetitivos e de certa forma ingênuos.
“Alguns desses doramas BL e GL estão num lugar meio ingênuo, meio inocente. Roteiros que são aquela coisa do primeiro amor na adolescência, onde o menino se apaixona pelo melhor amigo e não conseguem contar pra família”, afirma.
A Ecglobal, rede social para pesquisa de mercado, indica que dos 957 entrevistados, 55% assistem a doramas cotidianamente. Apesar da fama, a maioria dos BLs e GLs não são feitos por grandes emissoras. “Algumas vezes produtoras como a Netflix compram e colocam no catálogo, justamente uma tentativa de ampliação do público para capitalização das produções”, afirma Hipólito
“Acredito que as narrativas estão incluindo nossas realidades, como uma [estratégia de] ampliação de público. O público feminino cis que assiste os dramas hetero também consome muitos BLs. Mas confesso que acredito que tem uma camada de fetiche em relação a isso”, completa.
O romance além do dorama
Apesar da popularização de doramas BL e GL, discussões sobre a comunidade queer na Ásia ainda não possuem espaço. Em produções desse tipo, muitas vezes personagens gays são usados para alívio cômico ou “queer baiting” (forma de manipular a audiência LGBT a consumir algo que não possui representatividade de fato), usados para aumentar a tensão sexual entre casais héteros.
A representatividade existente sofre com o cenário político de onde são produzidos. Na Coreia do Sul, por exemplo, relacionamentos entre pessoas de mesmo sexo são legais, mas outras formas de união estáveis, como o casamento, continua não legalizada.
No cenário militar, o artigo 92-6 da lei militar da Coreia do Sul afirma que “sexo anal e outros atos indecentes” entre funcionários militares é punível com até 2 anos de prisão. Para homens gays que prestam serviço ao estado, qualquer ação homoafetiva dentro ou fora de quartel é considerada ilegal.
O cenário brasileiro
Apesar do casamento homoafetivo ser legal no Brasil desde 2013, produções nacionais não se encontram muito longe da realidade dos doramas. Com pessoas da comunidade LGBTQIAP+ representadas como alívio cômico ou em poucos papeis principais, a representatividade ainda está sendo trabalhada.
Com novelas sendo precursoras de participação de personagens queer, novas produções nacionais com histórias de protagonismo LGBTQIAP+ têm sido apresentadas ao cinema e às telas das casas dos brasileiros.
Apesar da dificuldade e pequenos avanços na representatividade, muitas obras valem a pena serem assistidas. Acompanhe uma pequena lista de produções que podem interessar:
Bad Buddy
A história se desenrola a partir da richa entre as famílias de Pran e Pat, que desde sempre tinham rivalidades profundas. Quebrando o ciclo, os dois meninos decidem se tornar amigos, e com o tempo, melhores amigos… talvez mais que isso. Por conta da rivalidade familiar, a nova amizade obviamente precisa se manter em segredo, mas até quando?

Hoje eu quero voltar sozinho
De 2014, a história fala sobre Leonardo, um adolescente cego que vive em companhia de sua melhor amiga, Giovana. Tudo muda no dia em que um aluno novo entra na mesma escola que ele, e a partir daí, Gabriel começa a entrar em sua vida. O filme fala sobre a descoberta do amor e do caminho para se descobrir como pessoa, sendo antes de tudo, uma obra leve.
Confira o pôster do lançamento:
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23,5
O dorama tailandês de gênero GL gira em torno de Ongsa, que depois de entrar em sua nova escola, cria um perfil masculino em um app para conhecer um par romântico. É através do perfil que conhece Sun, e aos poucos precisa entender como se desenrolar da situação em que se colocou, ao mesmo tempo que descobre mais sobre si mesma.
Bixa Travesty
Documentário sobre a vida da artista Linn da Quebrada, a obra segue contando sobre sua vida de forma poderosa e cheia de atitude. Mulher trans, periférica e preta, a produção mostra como a música tem poder para desafiar padrões impostos pela sociedade.

* Sob supervisão de Danilo Duarte