O diretor Diego Migliorini iniciou uma campanha de financiamento coletivo para seu novo curta de ficção científica queer “Marian”.
Abordando temas como a colonização e o corpo queer, o filme promete misturar elementos de fantasia e horror corporal para explorar questões como controle, liberdade e identidade.
A ficção científica vai contar a história de Marian, refugiade de outro planeta que se encontra prese dentro de um corpo humano, numa instalação secreta que usa aliens como fonte de energia. Em seu novo corpo, Marian luta para escapar e encontrar um novo lar.
Em entrevista ao Floripa.LGBT, Diego compartilhou sua visão:
“Queria fazer uma história queer que não fosse centrada apenas nas relações LGBTQIA+, e a ficção científica me ofereceu a oportunidade perfeita para isso. (..) A riqueza do sci-fi, assim como o terror e a fantasia, é trabalhar integralmente com a metáfora como imagem na narrativa”.
A narrativa de “Marian” dialoga diretamente com o subtexto político, segundo o diretor, o horror corporal, por exemplo, é uma maneira de abordar a ideia de controle sobre o corpo queer e o corpo imigrante.
“Todo cinema é político porque trabalha com imagem e discurso”, assinala o diretor. Para contribuir para a realização do projeto, basta acessar este link.
Marian e os desafios da ficção científica brasileira
O curta-metragem “Marian” faz parte do mestrado de Diego em direção cinematográfica pelo programa Kino Eyes, financiado pela União Europeia. Para Migliorini, a direção vai contar com um “desafio de comunicação e expressão imenso”, já que ele será um filme produzido na Escócia, com atores locais e falado todo em inglês.
Ao ser perguntado sobre o cenário da ficção científica no Brasil, o diretor apontou que embora seja um gênero pouco explorado, ainda assim há produções notáveis, como “Inabitável” e “Os Últimos Românticos do Mundo”, ambas de Pernambuco.
“O maior desafio é desatrelar esse gênero de grandes produções”, comenta Diego. “Muitos curtas brasileiros de ficção científica exploram ideias incríveis com orçamento pequeno”.
Para realizar “Marian” da forma imaginada, a equipe lançou campanhas nos países de todos os membros da equipe (Índia, Nepal, Indonésia e Brasil) com o objetivo de arrecadar cerca de R$ 20 mil (ou 3 mil libras).
“Já temos o equipamento e a equipe garantidos, mas ainda buscamos verba para efeitos especiais, produção de arte e distribuição”, explica Diego.
Para conhecer o diretor
O diretor catarinense já teve matéria publicada no Floripa.LGBT falando de seu trabalho no curta “Feira da Ladra”, que foi exibido no Festival Audiovisual Mercosul (FAM). O filme, inspirado na avó de Diego, aborda o abandono da terceira idade no contexto das reformas da previdência e a descartabilidade do corpo idoso.
Embora não trate diretamente de temáticas LGBTQIA+, o filme conta com um elenco inteiramente LGBT+. O diretor defende a representatividade como uma parte fundamental de seu trabalho, afirmando na ocasião que tudo que faz “é queer”, sobretudo por ser um cineasta ativista, vendo o poder do cinema de gerar dignidade e combater a intolerância.
A relação da ficção científica e a comunidade LGBT+
Quando perguntando sobre importantes ficções científicas queer, o diretor citou como principal exemplo “Matrix”, filme de 1999 dirigido por LilLy e Lana Wachowski, duas mulheres trans.
O filme é um marco da ficção científica com uma narrativa que explora a ideia de realidade simulada, tendo sido lida por algumas pessoas como uma analogia a experiência trans tempos depois.
Em 2020, Lilly Wachowski confirmou essa teoria, com o protagonista Neo simbolizando o processo de autodescoberta e transição de gênero.
A escolha da “pílula vermelha”, que permite a Neo ver a verdade sobre a Matrix, reflete o momento de aceitação de uma identidade verdadeira, algo que muitas pessoas trans vivenciam ao abraçar sua identidade de gênero.
Apesar de ao longo dos anos, a metáfora da “pílula vermelha” (red pill) ter sido apropriada por grupos de extrema direita, distorcendo seu significado original de libertação para promover intolerância. Matrix continua a ser uma referência de representatividade e empoderamento para pessoas trans e queer, e inspirando diversos cineastas a realizarem seus filmes.
* Sob supervisão de Danilo Duarte