“Emilia Pérez”, recordista de indicações ao Oscar 2025 com 13 nomeações, se destaca como um dos principais candidatos da temporada. O filme francês dirigido por Jacques Audiard traz um marco histórico: a atriz espanhola Karla Sofía Gascón é a primeira mulher trans indicada ao Oscar de Melhor Atriz.

Apesar do sucesso, “Emilia Pérez” enfrenta uma onda de críticas e polêmicas que vão desde o uso de inteligência artificial (IA) para modificar a voz da protagonista até acusações de transfobia e xenofobia na narrativa e na produção.
O enredo de “Emilia Pérez” e a atuação de Karla Sofía Gascón
O filme é um musical em espanhol que narra a história de Rita (Zoe Saldaña), uma advogada talentosa e insatisfeita com seu trabalho em uma firma que encobre crimes.
Rita é contratada por Juan Del Monte, chefe de cartel, para realizar uma transformação em sua vida: afirmar sua verdadeira identidade como Emilia Pérez (Karla Sofía Gascón) e se desvincular do seu antigo posto.
A performance de Gascón tem sido amplamente elogiada pela crítica e rendeu a ela a indicação histórica ao Oscar de Melhor Atriz. Sua presença no filme trouxe representatividade trans em grandes produções, mas a narrativa e algumas decisões criativas geraram críticas.
Uso de inteligência artificial e estereótipos
Uma das maiores polêmicas em torno do filme envolve o uso de inteligência artificial (IA) para modificar a voz de Karla Sofía Gascón. A produção utilizou a tecnologia para ajustar a tonalidade vocal da atriz, justificando a decisão como uma escolha artística.
Críticos afirmam que o uso de IA desvaloriza a autenticidade da performance de Gascón e reforça preconceitos contra características naturais de pessoas trans. Segundo especialistas, a tecnologia pode perpetuar a ideia de que corpos e vozes trans precisam ser “corrigidos” para atender a um padrão social.
Na trama, a protagonista inclui uma série de cirurgias estéticas para consolidar sua transição de gênero, o que gerou críticas por reforçar a ideia de que a identidade trans está diretamente ligada à adequação a padrões estéticos cisnormativos,trazendo uma abordagem superficial e estereotipada das experiências vividas pelas pessoas trans.
Acusações de xenofobia
“Emilia Pérez” tem enfrentado críticas por retratar a protagonista como ex-líder de um cartel de drogas, o que muitos apontam como reforço de estereótipos negativos sobre pessoas latinas.
O filósofo espanhol Paul B. Preciado classificou o filme como “carregado de racismo e transfobia”, além de reforçar narrativas coloniais e exotistas sobre a transição de gênero e a cultura mexicana.
Embora ambientado no México, o filme foi escolhido como representante da França no Oscar, o que gerou descontentamento no público mexicano.
A controvérsia foi ampliada após o diretor Jacques Audiard admitir que não realizou pesquisas aprofundadas sobre o México para compor a narrativa. A falta de autenticidade também foi criticada pelo elenco majoritariamente estrangeiro, o que intensificou debates sobre apropriação cultural e ausência de representatividade.
Divisão de opiniões no público e na crítica
Enquanto parte do público enxerga “Emilia Pérez” como um marco na representatividade trans, outros criticam questões como a ausência de consulta a organizações trans durante o desenvolvimento do roteiro, afirmando que isso poderia ter evitado os estereótipos associados à protagonista e a falta de profundidade em questões sensíveis.
Além disso, ativistas questionam como um filme que aborda temas de identidade de gênero e transformação não incluiu mais profissionais trans em sua equipe criativa.
O impacto de Karla Sofía Gascón e sua visão sobre a polêmica
Apesar das controvérsias, Karla Sofía Gascón reconhece o impacto histórico de sua indicação. Em entrevista recente, a atriz afirmou:
“Minha indicação representa um passo importante para a comunidade trans. Quero acreditar que isso abrirá portas para mais histórias autênticas e inclusivas serem contadas no cinema.”
Gascón também abordou a questão da inteligência artificial, dizendo que, embora tenha sido consultada sobre o uso da tecnologia, acredita que o recurso levanta questões importantes sobre como o cinema aborda corpos trans em papéis principais.

Recordista e favorito ao Oscar 2025
Com indicações em categorias como Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado, “Emilia Pérez” é o filme de língua não inglesa com mais indicações na história do Oscar. Além disso, concorre diretamente com outros favoritos, como o brasileiro “Ainda Estou Aqui“.
A cerimônia do Oscar 2025, marcada para o dia 2 de março, promete trazer debates importantes sobre representatividade e os limites entre inovação tecnológica e autenticidade artística.
Assista ao trailer de “Emilia Pérez”:
* Sob supervisão de Danilo Duarte