Conheça 5 filmes com temáticas e direções LGBT+ em exibição no FAM
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Conheça 5 filmes com temáticas e direções LGBT+ em exibição no FAM

Em entrevista ao Floripa.LGBT diretores dos filmes contam sobre suas produções e a representatividade LGBTQIAPN+ no cinema

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O Festiva Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM) termina nesta quarta-feira (11), depois de sete dias com diversas exibições de curtas e longas metragens produzidos por diretores do Brasil inteiro e países da América do Sul. E claro, para não passar batido, o Floripa.LGBT separou uma lista de filmes exibidos no festival com temáticas LGBT+ ou direção de pessoas da comunidade. A programação completa está no site famdetodos.com.br.

Conheça 5 filmes com temáticas e direções LGBT+ em exibição no FAM
Cartaz do curta “Cadafalso” (à esq.) e “Quarta-Feira” (à dir.), duas das obras LGBT+ que participam do FAM – Foto: Montagem/Divulgação/Floripa.LGBT

1. Cadafalso

O curta “Cadafalso” é dirigido por Yohana Fukui e acompanha a história de Carla, uma mulher carismática e livre que tem sua vida transformada em uma noite, mergulhando ela em um momento de angústia, confusão e emoções intensas.

Durante esse período, sua namorada Bárbara e seu melhor amigo Mateus desempenham papéis ambíguos na vida da protagonista, servindo tanto de apoio quanto sombra do passado.

Com isso, o filme de Porto Belo explora a jornada emocional de Carla enquanto busca reconciliar-se com sua psicóloga sobre o que aconteceu naquela noite e seus desdobramentos. “O roteiro de vivências minhas e de várias outras mulheres”, conta Yohana Fukui.

Uma das inspirações para a realização do curta foi a minissérie britânica “I May Destroy You”, no qual uma jovem escritora, após ter saído com os amigos de noite, acorda sem lembrar de nada, até descobrir que sofreu um abuso sexual no dia anterior.

A série acompanha a personagem tentando entender tudo que aconteceu. Além desta série, Yohana também cita “Euphoria” e “Her”, como algumas das referências.

“Cadafalso eu posso dizer que foi meu primeiro filme em grande escala como produtora. Com mais de 30 pessoas que aceitaram trabalhar, mesmo com uma verba muito pequena e com tantas responsabilidades”, conta a cineasta.

Desde pequena, a diretora conta que se interessava por fotografia, cinema e televisão. E por se considerar um pouco “introspectiva”, muita de sua referências de vida vieram de obras cinematográficas e televisivas.

Por volta de seus 15 anos, Yohana ganhou sua primeira câmera fotográfica, e ela começou a fazer ensaios com amigos e vídeos no YouTube. Hoje, o nome por trás de “Cadafalso” parou com os vídeos que fazia para internet e começou a estudar mais sobre a área cinematográfica. “Me encontrei nessa área da arte e sou muito feliz!”, diz com orgulho a diretora.

Para ela, os jovens cineastas LGBT+ não devem ter medo de contar suas histórias com autenticidade. “Sua voz é única e poderosa, e o mundo precisa ouvi-la”. Assim, Yohana aconselha os cineastas que estão começando a usar a arte para desafiar, inspirar e transformar, mantendo sempre a coragem de ser quem é, tanto atrás quanto diante das câmeras.

“Cadafalso” além de ser dirigido por Yohana Fukui, tem roteiro escrito por Julia Souza, Ella Pierresserra e Nicole Cunha e editado por Mozara Magalhães. O elenco conta com Verônica Borhofen, Sarah Motta, Guilherme Klabunde e Sabrina Vianna.

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Personagens Carla (à esq.) e Bárbara (à dir.) – Foto: Adriane Gomes/Instagram/Reprodução/Floripa.LGBT

2. Quarta-Feira

Dirigido pela paulista Julha, que é uma diretora lésbica, o curta de 12 minutos é um drama que segue duas personagens: Renata, uma empregada doméstica, e Carla, uma médica, que tem as vidas abaladas por eventos trágicos. A trama aborda como eventos trágicos e conflitos pessoais relacionados à segurança e privilégios afetam suas vidas, além de examinar as complexidades das experiências de cada personagem e como suas realidades distintas impactam suas interações e percepções.

Julha conta que cresceu ouvindo a mãe, que era uma migrante cearense em São Paulo, contar histórias da sua vida e como havia trabalhado como empregada doméstica durante toda a infância e pré-adolescência da diretora. Com isso, o desejo da cineasta era de explorar as nuances das questões envolvendo classe social e segurança pessoal.

O filme conta com inspirações estéticas de Sydney Lumet, com seus filmes “12 Homens e uma Sentença” e “Rede de Intrigas”. E inspirações temáticas, com “Metrópolis” de Fritz Lang, especialmente no seu tratamento do tema de classe social, além da direção de arte e montagem do curta.

“A produção de Quarta-feira foi um verdadeiro desafio de guerrilha. Como um curta-metragem universitário, tivemos que ser extremamente criativos e adaptáveis. Arrecadamos dinheiro por meio de rifas e investimos muito planejamento na pré-produção para garantir que tudo saísse conforme o planejado. Apesar das dificuldades, sinto um imenso orgulho pela realização do projeto, especialmente pelo fato de termos conseguido concretizar nossa visão com recursos limitados e muita paixão”, relata a diretora.

Para a cineasta, os festivais são fundamentais para a promover a diversidade no cinema. Além de proporcionar oportunidades para cineastas LGBT se conectarem com outros profissionais da indústria e expandirem suas redes. Julha, ainda conclui que se sente extremamente agradecida pela oportunidade do filme no festival e que espera que o curta “ressoe com a eterna esperança de todo um povo”.

Além de dirigir, Julha é produtora executiva e co-roteirista do filme. Junto a ela, trabalhou Dhandara Almeida no roteiro de “Quarta-feira” e Vinicius Almeida na edição e cinematografia. O elenco de atores conta com Andrea Santana e Jeyne Stakflett.

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Imagem do set de “Quarta-feira” – Foto: Quarta-feira/Divulgação/Floripa.LGBT

3. Festa para Duas

“Festa para Duas foi um filme que surgiu de uma lembrança de adolescência feminina, de um momento em que quase nunca levam a sério suas paixões”, afirma a cineasta Marina Polidoro. O filme faz parte da seleção infantojuvenil do festival e conta a história de Alana, uma adolescente lésbica criada sob as regras exigentes de uma avó muito religiosa.

A menina sonha em viver na cidade grande e experimentar as histórias de liberdade cantadas pela sua banda favorita. Enquanto isso não acontece, ela se contenta em reunir fãs da banda em encontros temáticos.

Por ser uma menina deslumbrada e socialmente vaidosa, Alana secretamente usa a oportunidade da festa de 15 anos, que sua avó está organizando, para transformar em mais um encontro de fãs da banda. Agora a menina precisa criar coragem e maturidade para contar para a vó, que detesta a banda.

O curta é um ‘coming of age’ e teve como inspiração a própria infância e adolescência de Marina. “Eu costumava ser como a Alana e ficava brava por não conseguir fazer as coisas que a personagem do filme faria”, explica a diretora.

Para a diretora, o futuro do cinema produzido por pessoas LGBT+ depende da luta para ocupar espaços que antes eram negados as pessoas da comunidade, pois o que é visto hoje é apenas uma parcela de tudo que esses cineastas podem oferecer.

“No Brasil nós precisamos de mais leis de incentivo ao mercado audiovisual, de mais profissionais LGBTQIA+ exercendo funções criativas importantes e mais oportunidades em festivais e em circuitos de distribuição no cinema, televisão e streaming. Internacionalmente acredito que ainda estamos atrelados à representação simbólica (que é boa), mas ainda distantes do que toda a potencialidade da verdadeira representatividade”.

Marina Polidoro dirige e co-roteiriza o filme com Bruna Schelb Corrêa, Ana Paula Romero faz a edição, Caroline Netto é responsável pela cinematografia e Stella Maria Flor o som. O elenco é composto por Maria Beatriz Braga, Vanda Ferreira e Maria Antônia de Assis.

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Pôster do filme curta-metragem “Festa para Duas” – Foto: Instagram/Divulgação/Floripa.LGBT

4. Feira da Ladra

Contando a história de Sara, uma professora de história aposentada que tem sua aposentadoria revogada pela reforma da previdência, e decide montar uma vendinha pra fazer um dinheiro e se desfazer de seus pertences, inventando histórias para cativar seus clientes.

A inspiração para a realização do filme foi a própria avó do diretor paulista Diego Migliorini, que de acordo com ele foi sua “segunda mãe”, e com que o cineasta viu o processo de evolução da doença de Alzheimer e do abandono dos familiares.

“Junto disso, uma vez visitei um mercado de pulgas que era famoso por ter idosos vendendo suas coisas para que seus filhos não tivessem que se preocupar com isso quando morressem. Isso me fez ligar as duas situações, essa ideia da memória como herança mas também como fardo. Também é quase um cliché a admiração de meninos gays por figuras femininas imponentes, convenhamos”, afirma Diego Migliorini.

Além disso, a alteração das regras da reforma da previdência durante o Governo de Jair Bolsonaro e o discurso de “descartabilidade” do corpo idoso na pandemia, também moveram o diretor a contar essa história, que está em processo de desenvolvimento desde 2016.

O financiamento para a produção do curta só veio em 2020, e a pandemia foi um fato bastante crítico para o desenvolvimento do filme. Já que a protagonista do filme, interpretada por Vera Valdez, tinha 85 anos na época e estava no grupo de risco. Desse modo, o curta só pode ser lançado finalmente em 2023.

Diego ainda destaca como um dos pontos fortes da sua produção o elenco inteiramente LGBT+, mesmo que “Feira da Ladra” não trate diretamente de temáticas da comunidade.

“Vai ser um filme LGBT porque tudo que eu fizer vai ser. Acho que esse é o próximo passo na representatividade, que já esta em curso. Por décadas tivemos atores não LGBT fazendo papeis LGBT, e acho que o contrário, se causa estranhamento, é porque funciona no âmbito politico do filme como produto. Como cineasta ativista queer, é um elemento do qual não abro mão. Acho que o cinema e a cultura tem que caminhar pra isso como forma de, entre outras coisas, gerar dignidade e dizimar a intolerância”, argumenta.

O filme é dirigido, roteirizado e editado pelo paulista Dieglo Migliorini, produzido por Giuliana Eira e tem cinematografia por Pedro Barros, Tristan Pae e Martina Quezado. O elenco de atores tem Vera Valdez, Leona Jhovs, Gabriel Lodi, Kiara Felippe, Mariana Cruz e Gabriel Holtz.

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Imagem de “Feira da Ladra” – Foto: Instagram/Divulgação/Floripa.LGBT

5. Sangria

Inspirado na atmosfera de pesadelo de “Império do Sonhos” de David Lynch e no sentimento de desolação criado por Gus Von Sant em “Paranoid Park”, o curta “Sangria” de Henrique Schlickmann, traz Lucca, um jovem que após a perda de seu grande amor começa a dissociar da realidade. O luto de Lucca, então, acaba virando uma disputa contra si mesmo em busca da aceitação da morte.

Produzido num período de seis meses, o filme foi o trabalho de conclusão de curso de Henrique. “No sentido de tempo, foi bem desafiador. Mas eu tive a sorte de ter uma equipe extremamente capacitada e criativa”, conta o diretor de “Sangria” em entrevista ao Floripa.LGBT.

Para o cineasta quanto mais as representatividades LGBTQIAPN+ são exploradas nos filmes, mais críveis elas se tornam para o público. A crescente de histórias da comunidade tornam-se um movimento natural e de muita importância, com cada vez mais diretores LGBTQIAPN+ ocupando papéis grandes no cinema. Apesar disso, Henrique afirma que essa representatividade ainda está longe do ideal.

“Eu acho que essas histórias devem ser mais contadas, receber incentivos, estar presentes em festivais e receber atenção das distribuidoras. Porque justamente essas histórias tocam as pessoas, e não somente as que estão inseridas na comunidade LGBTQIAPN+”, argumenta Schlickmann.

Desse modo, os festivais são para filmes com temáticas LGBT+ ou dirigidos por pessoas da comunidade, uma oportunidade de dar voz as histórias que alcancem públicos, que vão além das próprias pessoas da comunidade.

Por uma perspectiva otimista, Schlickmann acredita que há um futuro muito promissor para a comunidade nas telas. Havendo cada vez mais diretores LGBTQIAPN+ que estão ganhando respeito nacionalmente e internacionalmente e adquirindo a possibilidade de contar suas histórias e estar em grandes festivas. “É meu sonho poder ocupar esse lugar também”, declara.

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Imagem do set de “Sangria” – Foto: Henrique Schlickmann/Arquivo Pessoa/Divulgação/Floripa.LGBT

 

Sobre o FAM

A 28ª edição do Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul – FAM 2024 é um projeto cultural produzido através da lei de incentivo à cultura e por meio do Programa de Incentivo à Cultura – PIC, do Governo do Estado de Santa Catarina aprovado pela Fundação Catarinense de Cultura.

Conta com o apoio da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes através do Programa de Fomento ao Audiovisual, edital 2023 e do Prêmio Catarinense de Cinema, edição especial Lei Paulo Gustavo, Fundação Catarinense de Cultura, Estado de Santa Catarina.

* Sob supervisão de Danilo Duarte

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