Saúde mental e orgulho

Você quer um amor ou só quer se encaixar no Dia dos Namorados?

Talvez o que você esteja sentindo neste Dia dos Namorados nem seja solidão — mas a dor de tentar se encaixar em um modelo de amor que nunca foi feito pra você

Você quer um amor ou só quer se encaixar no Dia dos Namorados?
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Preciso falar de algo que vejo tanto na clínica quanto nos bastidores do mercado: o quanto a data do Dia dos Namorados tem virado uma vitrine de expectativas que machucam.

A cada junho, assistimos a um desfile de corações vermelhos, presentes caríssimos e declarações nas redes sociais que parecem gritar: “se você não tem alguém, tem algo errado com você”. Mas será que tem mesmo algo errado?

Você quer um amor ou só quer se encaixar no Dia dos Namorados?

A psicologia nos ensina que somos seres sociais — sim — mas a ideia de que precisamos de um par romântico exclusivo e monogâmico para sermos completos não é ciência. É cultura. E é uma cultura que oprime, machuca e dói.

Na clínica, escuto todos os dias pessoas LGBT+ sofrendo por se sentirem “atrasadas” na vida afetiva, por não performarem uma relação que seja “instagramável”. Sofrendo por não se encaixarem nem mesmo nas idealizações românticas que o próprio mundo LGBT+ absorveu do sistema heteronormativo.

E aqui vai uma provocação: até no nosso mundinho colorido, parece que só há espaço para o casal padrão, jovem, magro, masculino, monogâmico e “de sucesso”.

Mas e quem ama diferente? E quem está em relações abertas, relações múltiplas, vínculos afetivos fora da caixinha?

A psicologia crítica e a teoria queer já falam disso há décadas. Autores como Judith Butler, Michel Foucault, Paul B. Preciado e, no campo mais clínico nos ajudam a entender como os discursos de normalidade moldam nossas expectativas e relações.

E a ciência é clara: o que adoece não é estar só. O que adoece é se sentir anormal, insuficiente ou deslocado por não se encaixar no modelo que a sociedade vende como ideal.

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Como psicólogo afirmativo, eu te digo com base em estudos e vivências: ninguém é menos digno de afeto por ser solteire, por viver relações não convencionais ou por amar de forma diferente. A diversidade nos afetos é legítima, potente e humana.

O marketing romântico sobre o Dia dos Namorados cria escassez para vender uma solução mágica: o amor romântico como fim da solidão, da baixa autoestima, da insegurança. Só que isso é ilusão.

E pior: quem vive relações múltiplas, poliafetivas, relações livres ou simplesmente está bem solteire ainda é visto com desconfiança — até dentro da comunidade LGBT+. Por quê? Porque fomos ensinades a desejar o que é reconhecido como “normal” pelo outro.

Mas e se o verdadeiro problema não for a falta de um namorado… e sim o excesso de exigência para caber em moldes que não nos pertencem?

A psicologia nos dá ferramentas para romper com a normatividade compulsória. Com empatia, escuta, desconstrução de crenças e acolhimento da nossa singularidade, é possível construir afetos mais autênticos e menos performáticos.

A boa notícia? A Psicologia contemporânea nos ajuda a repensar os moldes. A resgatar o direito de amar como quisermos:

  • Em relações abertas ou fechadas
  • Em vínculos múltiplos ou com você mesme
  • Com romantismo ou sem romance
  • Com tempo, com consciência, com verdade

E se você sente mau ao ver casais felizes enquanto está só, ou se sente desconforto por desejar algo que foge do padrão, saiba: isso não te faz fraco. Te faz humano.

Na terapia, a gente constrói espaço seguro pra investigar de onde vem esse desejo. Se ele é seu. Ou se foi ensinado. Pra que correr atrás de um par, se você ainda não se encontrou com você?

É na escuta terapêutica que muita gente descobre que o problema nunca foi estar só… mas sim se sentir “menos” por isso.

Você pode estar solteire e pleno. Numa relação múltipla e em paz. Numa relação tradicional e consciente. O importante é que o modelo seja seu — e não uma fantasia enlatada para vender buquê e fondue no dia 12 de junho.

Que tal usar essa data do Dia dos Namorados não para se cobrar um relacionamento… mas para reafirmar seus vínculos com você mesmo, com amigas, com seus desejos reais?

Porque amor também é política. Também é escolha. E principalmente, também é libertação.

Cuide para cair na armadilha de achar que só é feliz quem tem alguém. Muitas vezes, é quem tem a si mesmo com verdade que está mais perto do amor real.

E se você ama diferente… lembre-se: o diferente não é errado. O diferente é resistência.

E você? Está buscando um relacionamento… ou tentando preencher um vazio que foi imposto por um ideal que nunca foi seu?

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