Nhain bonitas, como estão? Eu tô chocada, mas não surpresa. De fato Santa Catarina está virando um grande laboratório de ‘The Handmaids Tale’, empurrando goela a baixo normas e ideologias centradas na moral e nos bons costumes.

Quem entra em cena agora é o Complexo Penitenciário de Florianópolis, localizado no bairro Agronômica, próximo ao Centro Integrado de Cultura (CIC) e o destino que será dado ao espaço, quando o presídio for demolido.
A agitação do setor cultural e da população com a expectativa da construção da “Cidade da Cultura”, um amplo espaço de cultura e lazer de 173 mil metros quadrados, culminou em uma consulta pública.
Neste formulário intitulado “Cidade da Cultura | Escuta Social Ativa”, o público foi convidado a escolher os rumos deste espaço a partir de 2026, de espaço para shows até pista de caminhada e corrida.
O mesmo formulário colheu as opiniões do público até o dia 16 de março de 2025, auxiliando a escuta ativa e fortalecendo a opinião do povo como importante para construção de novos espaços na capital catarinense.

Foram aproximadamente 1.800 respostas, sendo 86,9% reivindicando a transformação do local em espaço cultural e de lazer.
Quando você acha que a direita catarinense não pode se superar, quando o último grão de areia da ampulheta estava a cair, surge o fantoche: Jorginho Mello!
Vem aí um santuário de 30 metros?
Para a surpresa do setor cultural e da população que participou do formulário, o governador de SC (do PL), bostejou sua decisão sobre este lugar. “Vamos implodir o presídio e construir uma santa de 30 metros”.
Uma santa? Que santa é essa? Uma Santa Ignorância? Padroeira do Mal? A Santa do Fascismo? Qual você me pergunta. Santa Catarina de Alexandria, padroeira que dá nome ao estado! Mas será que Catarina de Alexandria duraria em Santa Catarina nos dias atuais?
Considerada padroeira dos filósofos, estudantes, advogados e mulheres universitárias flertando também com feministas, Catarina incomodaria muita gente, principalmente Jorginho e sua turminha do barulho.
Vale lembrar que a própria se recusou a se submeter ao poder masculino da época, usou a palavra como arma e foi punida por isso.
Foi intelectual e questionadora, o que já assusta muitos espaços que valorizam a obediência e a manutenção da “ordem”.
Era religiosa, mas não submissa à estrutura religiosa dominante, porque defendia a fé cristã primitiva contra a imposição imperial.
Hoje, talvez ela confrontasse as igrejas que pregam ódio e exclusão em nome de Deus, como atua essa bancada fascista na Alesc.
Por fim, provavelmente estaria ao lado das minorias sociais, defendendo mulheres, pessoas LGBTQIAPN+, migrantes, negras e negros, além dos povos originários, pobres e todos os que sofrem sob estruturas autoritárias.
Portanto, Catarina seria, sim, uma figura vigiada, desacreditada, talvez caluniada como “revolucionária perigosa”, “herege”, “influencer do mal”, “militante demais”.
Ninguém aguenta mais Santa Catarina, nem a própria Catarina!
Confira a minha crônica sobre esse assunto:
Se Catarina de Alexandria Vivesse em Santa Catarina
Se Catarina de Alexandria vivesse hoje, talvez andasse de bicicleta pelo centro de Florianópolis, o cabelo solto ao vento, um livro de Simone Weil na mochila e os olhos faiscando pensamento. Não porque fosse moda ser intensa, mas porque ela sempre foi assim: intensa por natureza, insolente por justiça. Dizia o que pensava com a tranquilidade de quem já perdeu a cabeça uma vez — e não pretende perder a dignidade outra.
Em tempos onde se perseguem professoras por ensinar pensamento crítico, Catarina seria fichada. Não por blasfêmia, como no Império Romano, mas por “ideologia de gênero”, “ameaça à família tradicional”, ou por recitar trechos de Platão numa escola pública. A mídia diria: “Jovem ativista causa tumulto ao questionar autoridades locais”. Mas ela, calma, respiraria fundo e responderia com um poema de Santa Teresa d’Ávila.
Na Assembleia Legislativa, provavelmente tentariam silenciá-la. Uma deputada gritaria ofendida ao ouvir Catarina dizer que fé sem compaixão é vaidade. Um vereador a chamaria de “louca marxista” ao vê-la de mãos dadas com uma travesti na audiência pública sobre saúde.
Mas Catarina já quebrou uma roda com o toque da própria fé. Que é que um microfone cortado vai fazer com ela?
Ela andaria por São Joaquim, Lages, Itajaí, Joinville, Chapecó, Concórdia, Seara e Curitibanos ouvindo as vividas, conversando com donas de casa, assistindo missas nas comunidades, mas sem aceitar que o nome de Deus seja usado como trincheira para o preconceito. Ela abriria espaços com o peito e o verbo. Se emocionaria com as senhoras que, aos 70, vestem glitter para experimentar ser drag por uma tarde. “Isso também é milagre”, ela diria.
Catarina não seria santa de altar frio. Seria dessas que suam no coletivo, que pega fila do SUS, que toma café com pão dormido e ainda sorri, porque acredita que o mundo pode ser outro. Seria vista em protestos, vestida de branco e vermelho, segurando um cartaz que diria:
“Contra toda roda que quer nos moer”
E, ainda assim, alguns diriam que ela exagera. Que está provocando. Que “deveria ficar no seu lugar”.
Mas Catarina nunca teve um lugar definido. Foi filósofa, mártir, santa, rebelde, mulher. E em Santa Catarina de hoje, talvez ela não tivesse a cabeça cortada — mas seria cancelada, desacreditada, ameaçada, enlouquecida. Mesmo assim, ela seguiria.
Com sua palavra afiada.
Com sua fé sem jaula.
Com sua roda quebrada aos pés.
E nós, talvez, a seguiríamos também.