Dia dos Pais: casal LGBT da Grande Florianópolis conta como é adotar irmãos
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Dia dos Pais: casal LGBT da Grande Florianópolis conta como é adotar irmãos

“Não imagino a nossa vida sem eles”, fala Jenoir de Lima. Ele e o marido, Valmir, adotaram irmãos de sangue. Santa Catarina tem 217 crianças e adolescentes disponíveis para adoção

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Essa é a 10ª vez que o casal Jenoir Florêncio de Lima, 40 anos, e Valmir Jesus de Lima, 54, comemoram o dia dos Pais com a família, em Palhoça, na Grande Florianópolis. A vida deles mudou desde a chegada de Karlos Eduardo, o Kadu, hoje com 11 anos. Ao lado dele e de Gabriel, 15, irmão mais velho, o casal divide o sofá da sala de casa, no bairro Aririú, para contar a história deles nesta reportagem especial do Floripa.LGBT.

Dia dos Pais: casal LGBT da Grande Florianópolis conta como é adotar irmãos
“Não imagino a nossa vida sem eles”, fala Jenoir de Lima (esq.). Ele e o marido, Valmir, adotaram irmãos de sangue (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

Karlos Eduardo e Gabriel são irmãos de sangue e foram adotados pelo casal com aproximadamente quatro anos de diferença. Valmir, que é técnico contábil aposentado, conta que serem pais não estava necessariamente nos planos do casal. “A preocupação era com a solidão”, diz Jenoir, ou Jeno, que completa: “fomos amadurecendo o assunto. A gente ficou imaginando como seria no futuro”.

A cachorrinha Pantera faz parte da família, mas eles queriam que o núcleo humano fosse maior do que eles, juntos há 16 anos (em união estável no começo e casados legalmente desde 2015, já que o casamento entre pessoas do mesmo sexo se tornou reconhecido a partir de 2011).

Foi assim, e com uma boa pitada de amor de família e desejo de se tornarem pais, que o casal entrou no processo de adoção legal, seguindo as orientações da Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude, ligada ao Tribunal de Justiça de SC, por meio do Cadastro Único Informatizado de Adoção e Acolhimento (CUIDA), que existe desde 2005.

“Não imagino a nossa vida sem eles”

Eles já estavam na fila de adoção quando o pequeno Karlos Eduardo, o Cadu, surgiu na vida deles. “Ele tinha um ano e meio quando nos conhecemos. Hoje não imagino a nossa vida sem eles”, comenta, emotivo, Jeno, que atua como analista administrativo. “Fomos descobrindo juntos os caminhos”.

Dia dos Pais: casal LGBT da Grande Florianópolis conta como é adotar irmãos
Gabriel (camiseta branca) é o mais novo membro da família (Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

Foi a partir dali que eles foram vivenciando na prática, a paternidade e perceberam algumas dificuldades. “Não havia espaços que hoje são comuns, como um trocador de fraldas, por exemplo, em shoppings e supermercados. Os fraldários só existiam dentro de banheiros femininos. Pra eu conseguir trocar a fralda dele, alguém tinha que cuidar da porta do banheiro. E estamos falando de apenas 10 anos atrás!”, lembra.

Anos depois, foi a vez de Gabriel, que tinha 8 anos na época, passar o Réveillon com o casal Valmir e Jeno. Foi como se ele sempre morasse ali, brincam os pais. O processo de guarda do filho mais velho aconteceu de forma mais rápida, explica Jeno. No caso de Karlos Eduardo, foi preciso aguardar até o aniversário de 10 anos para que ele pudesse se manifestar diante da justiça. Hoje eles estão na fase de conversão da guarda definitiva em adoção.

É diferente ser filho de dois pais?

Gabriel conta que já está acostumado a responder a pergunta mais comum para quem tem dois pais, mas diz que não sente qualquer diferença. Ele também descreve que tem amigos há anos e gosta quando alguém novo – ou uma professora – perguntam sobre isso e abrem a chance de ele contar sobre isso.

Já sobre a diferença de clima no novo lar em relação ao anterior, o garoto tímido que hoje tem 15 anos e 1,78 metro de altura, dispara: “lá não tinha ninguém que visse o que eu fazia. E eu cuidava dos meus irmãos. Aqui eu sou mesmo.” Um pouco mais afetuoso e apegado aos pais, Karlos Eduardo responde orgulhoso à mesma pergunta: “eu sou caso raro, sou vip!”, dispara, sorridente.

Filhos de casais homoafetivos falam sobre homofobia

Desde 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) permite que casais do mesmo sexo adotem crianças Mas a LGBTfobia atinge não apenas quem expressa sua sexualidade ou gênero fora do que é tido como heteronormativo, mas permeia a vida de toda a família.

Dia dos Pais: casal LGBT da Grande Florianópolis conta como é adotar irmãos
(Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação)

Gabriel conta o que pensa sobre quem tem comportamento preconceituoso contra ele ou o casal homoafetivo que o adotou: “Deus escolhe as pessoas certas pra gente”. A lição de empatia se completa com a análise do mais novo. “Eu respeito os outros. E só quero que respeitem a minha família!”

Quantas crianças estão disponíveis para adoção em SC

Santa Catarina tem 217 crianças e adolescentes disponíveis para adoção, sendo 83 delas disponíveis para adoção ativa. É o menor número do Sul do Brasil. Outras 225 estão em processo de adoção no Estado.

A maior parte das crianças disponíveis para adoção (35) têm entre 14 e 16 anos. Grande parte das pessoas em busca de um lar, a maioria delas tem pelo menos um irmão. Os dados são do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, de responsabilidade do Conselho Nacional de Justiça.

Quais são as etapas do processo de adoção no Brasil

O processo de adoção é gratuito e deve ser iniciado na Vara de Infância e Juventude mais próxima de sua residência. A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida.

Para atender todas as exigências legais para constituir uma família adotiva, é preciso seguir algumas etapas, que vão da análise de documentos, passando por entrevistas até o momento de construir relações com o(s) novo(s) familiar(es). Clique aqui para ver quais são as etapas para a adoção.

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